Fotografia muda, sem fala, imagem preta com traços, riscos brancos, olhar distante, dançarina contemporânea, beletrista disfarçada. Vive no ermo, anacoreta, abandonada de todos, foge de convivência. Silenciosa, medita em palavras, escreve com o corpo.
Ciciosa, seu timbre é baixo, sua força está na solidão, poetisa, lê romances, Dostoievski, a caligrafia dos livros lhe atrai, as letras nas páginas amareladas são deleitosas, existir não é lógico, e o que atrapalha a vida é escrever.
Seus rabiscos íntimos já foram lidos, vasculhados, inúmeras vezes, outrora, o flerte, namorico, parceiro, era platônico, hoje ele é real, e ela é absolutamente só. Suas linhas são bruscas, o sentimentalismo é exacerbado, não existe piegas, apenas sensibilidade, vitrola, gramofone e grafonola. Sabe-se traduzir por meio da arte, da arquitetura urbanística, seus pesares existenciais. Tem alma, corpo, feição sensível.
O cinema é intrigante/interessante quando as imagens cinematográficas têm feitio preto e branco com efeito engajado. O medo de amar está estancado na película, casca, couro, na pele. Para fazer uma revolução é preciso mais do que uma frase de efeito, é preciso arrojo, atrevimento, ousadia. É difícil carregar estes atributos quando se é tímida, acanhada, calada. Porém a vida é uma roda viva. É como flutuar no ar como pássaros, é necessário tropeçar no céu como bêbados.
A prostituição é profana, própria do mundo contemporâneo, a cambolação retrata o engajamento dos carregadores no interior da África. A bagatela, a miséria, são imagens, reflexos.
A música de Buarque soa em segredo na vitrolinha ganhada pela bisavó, os tinteiros retratam o lirismo do vinil, dos discos. Apaixonei-me subitamente por fatos sem literatura, e o que escrevo é mais do que invenção seguida de um silêncio intimo.
Ana Luísa Nardin
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Alguns tombos acabam deixando cicatrizes bem maiores que do que nos permitimos. Daí fica complicado não ter o tal medo de amar...
ReplyDeleteBeijos!!
Meio Caio Fernando Abreu.
ReplyDeleteHá braços!!
caramba, por coincidência li teu texto ouvindo uma música do jeff buckley (last goodbye)... hehehe... ficou melhor do que já é.
ReplyDeletee a vida não teria graça se não fossemos bebados tropeçando no céu de vez em quando...
coloquei um link pro teu blog no meu!
bjos
tu tens uma capacidade impressionante de fisgar o leitor! =)
ReplyDeletebeijo
Leitura recompensada além da expectativa.
ReplyDeleteEscrever às vezes é como desenhar na água. E o leitor precisa ficar atento para ler antes que a idéia mude de forma.
Abraços.
Concordo, existir não é nem um pouquinho lógico, e quem diz que é, precisa estudar um pouco mais de lógica.
ReplyDeleteProfana. Pois como leitor, me sinto meio que um profanador também, profanador de textos, porque acabo violando o que foi escrito e projeto no texto as minhas idéias.
E gostei da análise que você fez do meu texto, muito boa. Gostei.
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ReplyDeleteAna luísa,gostei muito do seu blog.Espero que essa forma de se expressar possa ter o objetivo de alavancar corações e auto-descobrimento.
ReplyDeleteComo eu disse a você,com o desenvolvimento da minha escrita e o continuo aprendizado com minhas vivências,terei um blog com uma única perspectiva:colaborar e interagir com pessoas interessadas no humanismo.
Grande abraço do seu amigo diário(hehehe)
Depois de um século venho retribuir a visita!!! rs... é q eu gosto de entrar com tempo, para poder ler com calma o mundo alheio, mesmo que nada comente sobre ele. Penso sempre haver mais nesse teu "silêncio íntimo".
ReplyDeleteei! não desista do blog, hein?!
ReplyDeleteestou aguardando a próxima crônica!
;)
saudade de um texto teu...
ReplyDeletePor isso gosto de escrever... mudo de idéia como troco de cueca... e isso porque não sou o sinônimo de limpeza.
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