No telhado vermelho, corado, rubro estava Antônia, com seu caderno de escritos, seus tinteiros negros,sentada com as pernas cruzadas, a brisa do vento tocava seu rosto de um modo sutil, suas meias coloridas combinavam com sua sapatilha de boneca, seu cabelo estava mais curto que o padrão, o céu estava borrado. Ela sempre apreciou seu subterrâneo, mas gostava de escrever nas alturas em dias nublados e de ler em seu subsolo nos dias chuvosos. A solidão pulsa no ponto mais alto e mais baixo da casa.
Antônia não é bonita, tão pouco feia, apenas ela, diferente do padrão, não é vulgar, ás vezes se faz de tímida. Confesso que é bastante critica coloca defeitos nas coisas, observadora do mundo, porém poucos sabem da quão espectadora é. Para ela o mundo ainda é uma incógnita, os livros configuravam e contribuíam para o seu casulo, vive no mundo paralelo dos romances de páginas amarelas. Mas chega o dia em que as sapatilhas de bonecas já não servem mais, em que a rapariga resolve sair da caverna, da furna, para ela é difícil não se envolver, tem uma intimidade própria, um eu reservado, intenso, não entende a lógica do sistema, mas sabe das crueldades mundanas.
Envolve-se com garotos contraditórios, talvez porque ela também seja incoerente, confusa, perplexa. Apaixonada por arte fotografada, alguns não entendem seus quadrinhos, suas fotos, tão pouco seus gestos, a verdade é que poucos a observam tal como é, raros sabem da sua loucura por cinema preto e branco, da sua coleção de discos antigos, e principalmente da sua paixão platônica por Chico Buarque.
Em busca de uma um eu poético, de uma paridade absoluta, de um real, teme a banalidade dos sentimentos cálidos, a ausência de afeto, a seriedade exacerbada, para ela a juventude é demasiadamente bela e feia, a contradição configura o ar jovial, singelo, doce de Antônia.
Está segue os conselhos da avó, admira a vaidade das mocinhas do cinema preto e branco, gosta da tranqüilidade, feiúra, liberdade das meninas das artes plásticas. Antônia resolveu seguir a vida subir nos telhados, dizer adeus a nostalgia daquilo que não existiu. Personagem contrária aos outros, gosto do som baixo, melódico de sua voz, aprecio o real de Antônia esta carrega a meninice das raparigas líricas, senti a doçura e a dor existencial de um eu perdido, perturbado com o mundo.
Ana Luísa Nardin
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A Antônia é especial! E isso deve ser admirado.
ReplyDeleteAdorei seus textos Ana!
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Então voltou! Passo por aqui pelo menos uma vez por semana, desde agosto. Preguiça, hein?
ReplyDeleteEssa menina que sobe para ver o mundo e desce para se descobrir, tem um pouco de cada menina que desabrochou mulher, como nós.
Abração e obrigada pelas boas lembranças que o texto trouxe