A rapariga dos olhos negros, dos pés de bailarina, dos lábios vermelhos contem traços de uma donzela qualquer, mas, é cheia de frases indescritíveis, de versos assombrosos, de falas singelas, é uma mistura de timidez com ousadia, de contemporâneo com pós-moderno, de eu com min.
A rapariga observa a arte como uma metáfora, num cenário em que as obras permanecem vão além dos espelhos, os quadros continuam existindo, o mundo fica e as pessoas tornam-se im-per-ma-nen-tes, falecem com o tempo, passam a fazer parte de um período finito mas, o seu eu-artístico fica nas estradas mundanas, no infinito das páginas amarelas.
A loucura dos artistas lhe fascina, a roda das ciências humanas a deixa translucida, gosta da arte das bailarinas, da permanência artística, dos muros pixados na madrugada, da dança contemporânea, de bailar nas pontas dos pés, de flertar com os caras mais diferentes, de ler os livros mais antigos, de escrever as coisas mais absurdas, de rir sem motivos, de fumar paiero, de beber as bebidas alcoólicas mais ardidas e de chorar de saudades.
Na intimidade da noite, ao som da madrugada dois corpos despidos se tocam, bailam, existindo cumplicidade, arte, vitrola, a rapariga gosta de acreditar que pode ser livre, contemporânea, pós-moderna como os quadros de Tarsila porém, era necessário paixão, e isto a rapariga não sabia dizer se sentia por ele, sentia-se confusa, não conseguia definir seu sentimento por aquele camarada de tão pouco tempo, a não definição deixava-a perturbada, sentia medo de se tornar clichê mas, o afeto, a delicadeza por aquele ser diferente era nítido mas, a realidade é bem distante das utopias mundanas.
O mundo é sutil ao ponto de ser singelo, existe um que de surreal, a sensação de um preto com contraste branco, da parede vermelha com quadrinhos pregados de moldura amarela, da pobreza com a luxuria dos ricos, a favela, a cidade, ás histórias, era tudo tão estranho, como conseguir pintar nuvens em uma tela nublada, chuvosa, como ser e não ter.
Ela uma menina da humanas, rapariga qualquer, engajada, dona dos olhos negros, de um sorriso marcante, dos quadros mais interessantes, o curioso é que ele sabe o quão diferente ela é, e ela sabe que ele poderia vir a ser seu parceiro. Ela gosta de seus discos, de seus quadros, e de seus filmes, mas, gostou do modo sutil como seus corpos se encontram, do modo doce como os lábios se tocam, mas, não sabia dizer para as outras raparigas se era o começo ou o fim de um romance qualquer.
O que a rapariga deseja é ser ela, antes de tudo um ser humano, com muito mais sentimento do que carne ou osso, um ser mundano, que consiga enxergar a arte no cotidiano, o belo no feio, a leveza no sutil, ser espontânea, nunca forçar o outro mas, pela lei de Buarque a gente era obrigado a ser feliz.
Ana Luísa Nardin
Monday, February 21, 2011
Friday, December 24, 2010
Rapariga Mineira
A madrugada era fria, o papel, o tinteiro estavam na mesa de madeira, o céu estava de um azul bem escuro, os pés estavam descalços, os cigarros guardados dentro de uma caixinha, os traços, os lábios rosados, trincados, o jeito de olhar, e o modo como descrevia seus sentimentos eram os mesmo, mas, alguma coisa estava mudada, desafinada, diferente, a rapariga não era mais a mesma.
Escrever ainda é compor, sentia falta de rabiscar nas folhas de seu caderno. O corpo se transformou o calor do outro a deixou transluza e confusa. O silêncio da noite se misturava com o som da vitrola ligada, os livros espalhados na mesa, os quadros pregados na parede, com a fumaça do cigarro interagindo ao relento da madrugada. Havia solidão, existia paixão, mas, a saudade, as lembranças e recordações pulsavam loucamente no interior da rapariga.
Aos poucos ia deixando as sapatilhas de boneca, as meias coloridas, a casa de madeira da avó, alguns amigos. Suas frases tinham mudado, sua cidade se transformado, seu corpo era de bailarina, mas o modo como bailava já não era mais o mesmo, seus amores antes eram platônicos, hoje amava alguns rapazes de um modo demasiadamente real, ao ponto de poder sentir, tocar o outro de uma maneira doce, conseguindo ser sutil e singela, outrora, isto era irreal, talvez estivesse presente apenas no inconsciente da donzela.
A saudade da vida mineira, da comida do pai, da casa da avó, das risadas com o irmão, do dia-a-dia com a mãe e ao mesmo tempo a virtude, ousadia de morar sozinha, de sair de casa, de fazer ciências socias, de ser contemporânea e picareta. A paixão pelo cinema preto e branco, algumas lembranças do primeiro garoto que a levou ao cinema, algumas frases, toque de lábios que ficam guardadas na parede da memória.
A menina possuía todos os traços de uma rapariga qualquer, não sentia saudades do tempo da meninice, naquele tempo a escrita era refugio, a vontade de escrever pulsava, tudo era suficientemente temperado com mel, achava que sabia se proteger, era tão ingênua, passava despercebida, vivia no ermo da timidez, tinha medo de se machucar, talvez até de se envolver, se escondia nos versos, era tão graciosa, mas ao mesmo tempo triste, fria e cálida.
Talvez agora tivesse se transformado em uma menina-moça, mas alguns trechos tinham se mantido estavam intactos em seu eu-poetico, os seus versos continuavam dotados de palavras, sua risada estava mais leve, o modo como segura o tinteiro, até sua letra tinha se desfigurado, tudo estava diferente, seus desenhos estavam mais intrigantes, seus cabelos mais curtos, seu mundo mais interessante, seus sonhos mais quentes, talvez este fosse o fascínio da maioridade, carregava duas décadas de pura meninice na maleta, alguns botecos da juventude, o primeiro porre, o primeiro cigarrilho, alguns namoricos, algumas decepções e várias paixões instantâneas, o engraçado é que livros continuavam sendo seus melhores companheiros, as películas também continuam lhe agradando de uma maneira tão singular e poética.
Ela não sabia descrever o que tinha realmente mudado, mas não tinha duvidas de que tinha se transformado que sua essência se desfigurou, adentrava ao mundo real, tinha deixado a bolha da infância, tocava de um modo sutil o mundo adulto e não temia mais nada, viver a consumia muito.
Ana Luísa Nardin
Escrever ainda é compor, sentia falta de rabiscar nas folhas de seu caderno. O corpo se transformou o calor do outro a deixou transluza e confusa. O silêncio da noite se misturava com o som da vitrola ligada, os livros espalhados na mesa, os quadros pregados na parede, com a fumaça do cigarro interagindo ao relento da madrugada. Havia solidão, existia paixão, mas, a saudade, as lembranças e recordações pulsavam loucamente no interior da rapariga.
Aos poucos ia deixando as sapatilhas de boneca, as meias coloridas, a casa de madeira da avó, alguns amigos. Suas frases tinham mudado, sua cidade se transformado, seu corpo era de bailarina, mas o modo como bailava já não era mais o mesmo, seus amores antes eram platônicos, hoje amava alguns rapazes de um modo demasiadamente real, ao ponto de poder sentir, tocar o outro de uma maneira doce, conseguindo ser sutil e singela, outrora, isto era irreal, talvez estivesse presente apenas no inconsciente da donzela.
A saudade da vida mineira, da comida do pai, da casa da avó, das risadas com o irmão, do dia-a-dia com a mãe e ao mesmo tempo a virtude, ousadia de morar sozinha, de sair de casa, de fazer ciências socias, de ser contemporânea e picareta. A paixão pelo cinema preto e branco, algumas lembranças do primeiro garoto que a levou ao cinema, algumas frases, toque de lábios que ficam guardadas na parede da memória.
A menina possuía todos os traços de uma rapariga qualquer, não sentia saudades do tempo da meninice, naquele tempo a escrita era refugio, a vontade de escrever pulsava, tudo era suficientemente temperado com mel, achava que sabia se proteger, era tão ingênua, passava despercebida, vivia no ermo da timidez, tinha medo de se machucar, talvez até de se envolver, se escondia nos versos, era tão graciosa, mas ao mesmo tempo triste, fria e cálida.
Talvez agora tivesse se transformado em uma menina-moça, mas alguns trechos tinham se mantido estavam intactos em seu eu-poetico, os seus versos continuavam dotados de palavras, sua risada estava mais leve, o modo como segura o tinteiro, até sua letra tinha se desfigurado, tudo estava diferente, seus desenhos estavam mais intrigantes, seus cabelos mais curtos, seu mundo mais interessante, seus sonhos mais quentes, talvez este fosse o fascínio da maioridade, carregava duas décadas de pura meninice na maleta, alguns botecos da juventude, o primeiro porre, o primeiro cigarrilho, alguns namoricos, algumas decepções e várias paixões instantâneas, o engraçado é que livros continuavam sendo seus melhores companheiros, as películas também continuam lhe agradando de uma maneira tão singular e poética.
Ela não sabia descrever o que tinha realmente mudado, mas não tinha duvidas de que tinha se transformado que sua essência se desfigurou, adentrava ao mundo real, tinha deixado a bolha da infância, tocava de um modo sutil o mundo adulto e não temia mais nada, viver a consumia muito.
Ana Luísa Nardin
Friday, January 29, 2010
Hélio
Os escritos eram envelhecidos, ás paginas eram antigas, o caderno era preto tinha traços, linhas, rabiscos de um menino, garoto, rapaz. A caligrafia, maneira de escrever, o modo como segurava o tinteiro, pincel, retratava seu feitio poético, com delineamento da bossa nova.
Hélio não era comum, era garoto, nunca soube ao certo como se escrevia uma carta de amor, sentir, tocar, escrever é demasiadamente difícil, para ele as moças tinham algo de poético, fantasioso, gostava do lirismo, do mistério, da quietude das donzelas. Vivia no mundo paralelo dos artistas, seus desenhos, sua arte plástica tinha um feitio quase que indescritível, com rabiscos contemporâneos, seus olhos eram de uma claridade incontida, seu charme estava nos livros, nos discos, nos versos, na poesia que compunha, ele era real, mas tinha medo da paixão, da perturbação, do amor ardente, violento. Não sabia como tocar, sentir, magoar, compor as raparigas, elas eram demasiadamente interressantes, porém tão intrigantes, de um lirismo exacerbado, donas de um mistério cálido.
Gostava de Zilda, de Helena, e de Cecília esta última era dona de uns olhos negros, seus lábios eram rubro, vermelhos, rosados, seus cabelos com tom ruivo, de uma doçura, brandura, meiguice, cantava bossa nova, seu ídolo era Tom Jobim, mas cantava Cartola de um modo tão doce. Cecília não era comum, tão pouco vulgar, ás vezes sua beleza passava despercebida pelos rapazes, porém Hélio sentia se atraído por aquela rapariga, filha de pais alcoólatras, de uma família torta, mas existia uma cumplicidade quase que real entre seus entes queridos, viviam de samba, era filha de intelectuais, porém alguns deles caem na desgraça ou virtude da boêmia.
O que intrigava Hélio era o fato de não conseguir tocar, aproximar se de Cecília era demasiadamente difícil, observa – lá de longe era tão bom,graciosa, ela era cheia de contradições, incoerências. Era distante, próxima, fria, bonita, feia, tímida, porém seu corpo era silencioso e gritante. Fácil era pintar, esculpir seu rosto em telas brandas, cálidas, sua beleza era única, ímpar, e o amor de Hélio por Cecília era platônico, tímido, romântico.
Espinhoso não era escrever uma carta de amor, e sim tocar os lábios rubros, vermelhos, sentir o calor de dois corpos, o arder da juventude pulsava tanto em Hélio, quanto em Cecília, ambos foram cúmplices de romance forjado, pouco duradouro, porém cálido, intenso. Ele não havia enamorado apenas Cecília, existia Zilda e Helena. E ela era contemporânea filha de intelectuais, interessante ao seu modo diria Tom Jobim.
A juventude é serena, cruel, nos resta beber doces ardidas de uísque, taças de vinho tinto, bailar com sapatinhos de bailarinas, flertarem, compor, escrever, esculpir. E não deixar que eu-poético morra dentro de nós.
Ana Luísa Nardin
Hélio não era comum, era garoto, nunca soube ao certo como se escrevia uma carta de amor, sentir, tocar, escrever é demasiadamente difícil, para ele as moças tinham algo de poético, fantasioso, gostava do lirismo, do mistério, da quietude das donzelas. Vivia no mundo paralelo dos artistas, seus desenhos, sua arte plástica tinha um feitio quase que indescritível, com rabiscos contemporâneos, seus olhos eram de uma claridade incontida, seu charme estava nos livros, nos discos, nos versos, na poesia que compunha, ele era real, mas tinha medo da paixão, da perturbação, do amor ardente, violento. Não sabia como tocar, sentir, magoar, compor as raparigas, elas eram demasiadamente interressantes, porém tão intrigantes, de um lirismo exacerbado, donas de um mistério cálido.
Gostava de Zilda, de Helena, e de Cecília esta última era dona de uns olhos negros, seus lábios eram rubro, vermelhos, rosados, seus cabelos com tom ruivo, de uma doçura, brandura, meiguice, cantava bossa nova, seu ídolo era Tom Jobim, mas cantava Cartola de um modo tão doce. Cecília não era comum, tão pouco vulgar, ás vezes sua beleza passava despercebida pelos rapazes, porém Hélio sentia se atraído por aquela rapariga, filha de pais alcoólatras, de uma família torta, mas existia uma cumplicidade quase que real entre seus entes queridos, viviam de samba, era filha de intelectuais, porém alguns deles caem na desgraça ou virtude da boêmia.
O que intrigava Hélio era o fato de não conseguir tocar, aproximar se de Cecília era demasiadamente difícil, observa – lá de longe era tão bom,graciosa, ela era cheia de contradições, incoerências. Era distante, próxima, fria, bonita, feia, tímida, porém seu corpo era silencioso e gritante. Fácil era pintar, esculpir seu rosto em telas brandas, cálidas, sua beleza era única, ímpar, e o amor de Hélio por Cecília era platônico, tímido, romântico.
Espinhoso não era escrever uma carta de amor, e sim tocar os lábios rubros, vermelhos, sentir o calor de dois corpos, o arder da juventude pulsava tanto em Hélio, quanto em Cecília, ambos foram cúmplices de romance forjado, pouco duradouro, porém cálido, intenso. Ele não havia enamorado apenas Cecília, existia Zilda e Helena. E ela era contemporânea filha de intelectuais, interessante ao seu modo diria Tom Jobim.
A juventude é serena, cruel, nos resta beber doces ardidas de uísque, taças de vinho tinto, bailar com sapatinhos de bailarinas, flertarem, compor, escrever, esculpir. E não deixar que eu-poético morra dentro de nós.
Ana Luísa Nardin
Monday, December 7, 2009
Antônia
No telhado vermelho, corado, rubro estava Antônia, com seu caderno de escritos, seus tinteiros negros,sentada com as pernas cruzadas, a brisa do vento tocava seu rosto de um modo sutil, suas meias coloridas combinavam com sua sapatilha de boneca, seu cabelo estava mais curto que o padrão, o céu estava borrado. Ela sempre apreciou seu subterrâneo, mas gostava de escrever nas alturas em dias nublados e de ler em seu subsolo nos dias chuvosos. A solidão pulsa no ponto mais alto e mais baixo da casa.
Antônia não é bonita, tão pouco feia, apenas ela, diferente do padrão, não é vulgar, ás vezes se faz de tímida. Confesso que é bastante critica coloca defeitos nas coisas, observadora do mundo, porém poucos sabem da quão espectadora é. Para ela o mundo ainda é uma incógnita, os livros configuravam e contribuíam para o seu casulo, vive no mundo paralelo dos romances de páginas amarelas. Mas chega o dia em que as sapatilhas de bonecas já não servem mais, em que a rapariga resolve sair da caverna, da furna, para ela é difícil não se envolver, tem uma intimidade própria, um eu reservado, intenso, não entende a lógica do sistema, mas sabe das crueldades mundanas.
Envolve-se com garotos contraditórios, talvez porque ela também seja incoerente, confusa, perplexa. Apaixonada por arte fotografada, alguns não entendem seus quadrinhos, suas fotos, tão pouco seus gestos, a verdade é que poucos a observam tal como é, raros sabem da sua loucura por cinema preto e branco, da sua coleção de discos antigos, e principalmente da sua paixão platônica por Chico Buarque.
Em busca de uma um eu poético, de uma paridade absoluta, de um real, teme a banalidade dos sentimentos cálidos, a ausência de afeto, a seriedade exacerbada, para ela a juventude é demasiadamente bela e feia, a contradição configura o ar jovial, singelo, doce de Antônia.
Está segue os conselhos da avó, admira a vaidade das mocinhas do cinema preto e branco, gosta da tranqüilidade, feiúra, liberdade das meninas das artes plásticas. Antônia resolveu seguir a vida subir nos telhados, dizer adeus a nostalgia daquilo que não existiu. Personagem contrária aos outros, gosto do som baixo, melódico de sua voz, aprecio o real de Antônia esta carrega a meninice das raparigas líricas, senti a doçura e a dor existencial de um eu perdido, perturbado com o mundo.
Ana Luísa Nardin
Antônia não é bonita, tão pouco feia, apenas ela, diferente do padrão, não é vulgar, ás vezes se faz de tímida. Confesso que é bastante critica coloca defeitos nas coisas, observadora do mundo, porém poucos sabem da quão espectadora é. Para ela o mundo ainda é uma incógnita, os livros configuravam e contribuíam para o seu casulo, vive no mundo paralelo dos romances de páginas amarelas. Mas chega o dia em que as sapatilhas de bonecas já não servem mais, em que a rapariga resolve sair da caverna, da furna, para ela é difícil não se envolver, tem uma intimidade própria, um eu reservado, intenso, não entende a lógica do sistema, mas sabe das crueldades mundanas.
Envolve-se com garotos contraditórios, talvez porque ela também seja incoerente, confusa, perplexa. Apaixonada por arte fotografada, alguns não entendem seus quadrinhos, suas fotos, tão pouco seus gestos, a verdade é que poucos a observam tal como é, raros sabem da sua loucura por cinema preto e branco, da sua coleção de discos antigos, e principalmente da sua paixão platônica por Chico Buarque.
Em busca de uma um eu poético, de uma paridade absoluta, de um real, teme a banalidade dos sentimentos cálidos, a ausência de afeto, a seriedade exacerbada, para ela a juventude é demasiadamente bela e feia, a contradição configura o ar jovial, singelo, doce de Antônia.
Está segue os conselhos da avó, admira a vaidade das mocinhas do cinema preto e branco, gosta da tranqüilidade, feiúra, liberdade das meninas das artes plásticas. Antônia resolveu seguir a vida subir nos telhados, dizer adeus a nostalgia daquilo que não existiu. Personagem contrária aos outros, gosto do som baixo, melódico de sua voz, aprecio o real de Antônia esta carrega a meninice das raparigas líricas, senti a doçura e a dor existencial de um eu perdido, perturbado com o mundo.
Ana Luísa Nardin
Tuesday, August 4, 2009
José
No interior de São Paulo a rapariga de olhos castanhos se refugiava, lá era si mesma, não existia máscara, molde, tampouco disfarce. Suas lágrimas são ardidas, seus flertes irreais, seus amores platônicos, suas saudades surreais. Têm traços líricos, em alguns momentos é poética, ás vezes se faz de amarga, mas é doce como um doce de leite.
Seu refúgio está nas paredes brancas, no tapete verde, nos móveis de madeira antiga, nas mobilhas de cristal, na cadeira de balanço, na sala cinematográfica, nos quadrinhos, nos vinis, no caderno em que se escrevem todas as particularidades sucedidas em cada singradura.
A nostalgia da rapariga que um dia deixou de ser menina ingênua, inofensiva, pura, é nítida, esta estampada na caligrafia intima. É difícil descrever sobre as virtudes da meninice, de como é apreciar as cores dos quadros de Frida Kahlo, das molduras de madeira com seus inúmeros detalhes, o som leve e bom dos discos antigos.
É impossível datilografar a singularidade das historias dos loucos, santos, pintores, músicos, anarquistas e comunistas que eram contadas no interior de Sampa por José, bisavô herói. Este fazia almoços informais, na casa de José podia ouvir vitrola o dia inteiro, até nas horas impróprias, ele dizia que as músicas inglesas eram o máximo, que os americanos sabiam fazer jazz, porém preferia a bossa nova, o samba engajado, tudo muito brasileiro. Dizia que o samba conta a vida e o cotidiano de quem mora na cidade, ressaltando a população mais pobre, que suas raízes foram fincadas no Brasil desde a época colonial, indiscutivelmente o gênero que confere a identidade brasileira.
Com o bisavô a garota/rapariga/menina aprendeu gostar de samba, de rock, blues, jazz, conheceu o mundo musical, a ser poética sensível e deparou-se com o lirismo sentimental, exacerbado.
E no fim da vida de José não teve samba,a rapariga não estava a fim de comer doce de leite. Existia apenas o falecimento, o silêncio. Ele sempre disse que quanto à nostalgia/saudade se tornar grande, maior deve ser o volume da vitrola, do rádio, do vinil, e menor tem que ser a melancolia, angustia.
Há tempos a menina, de olhos cor castanho quase negros, não escrevia, não borrava mais os escritos com sua aquarela, mas escuta música todos os dias desde o falecimento de José, seu verdadeiro herói.
Ana Luísa Nardin
Seu refúgio está nas paredes brancas, no tapete verde, nos móveis de madeira antiga, nas mobilhas de cristal, na cadeira de balanço, na sala cinematográfica, nos quadrinhos, nos vinis, no caderno em que se escrevem todas as particularidades sucedidas em cada singradura.
A nostalgia da rapariga que um dia deixou de ser menina ingênua, inofensiva, pura, é nítida, esta estampada na caligrafia intima. É difícil descrever sobre as virtudes da meninice, de como é apreciar as cores dos quadros de Frida Kahlo, das molduras de madeira com seus inúmeros detalhes, o som leve e bom dos discos antigos.
É impossível datilografar a singularidade das historias dos loucos, santos, pintores, músicos, anarquistas e comunistas que eram contadas no interior de Sampa por José, bisavô herói. Este fazia almoços informais, na casa de José podia ouvir vitrola o dia inteiro, até nas horas impróprias, ele dizia que as músicas inglesas eram o máximo, que os americanos sabiam fazer jazz, porém preferia a bossa nova, o samba engajado, tudo muito brasileiro. Dizia que o samba conta a vida e o cotidiano de quem mora na cidade, ressaltando a população mais pobre, que suas raízes foram fincadas no Brasil desde a época colonial, indiscutivelmente o gênero que confere a identidade brasileira.
Com o bisavô a garota/rapariga/menina aprendeu gostar de samba, de rock, blues, jazz, conheceu o mundo musical, a ser poética sensível e deparou-se com o lirismo sentimental, exacerbado.
E no fim da vida de José não teve samba,a rapariga não estava a fim de comer doce de leite. Existia apenas o falecimento, o silêncio. Ele sempre disse que quanto à nostalgia/saudade se tornar grande, maior deve ser o volume da vitrola, do rádio, do vinil, e menor tem que ser a melancolia, angustia.
Há tempos a menina, de olhos cor castanho quase negros, não escrevia, não borrava mais os escritos com sua aquarela, mas escuta música todos os dias desde o falecimento de José, seu verdadeiro herói.
Ana Luísa Nardin
Saturday, June 6, 2009
Profana
Fotografia muda, sem fala, imagem preta com traços, riscos brancos, olhar distante, dançarina contemporânea, beletrista disfarçada. Vive no ermo, anacoreta, abandonada de todos, foge de convivência. Silenciosa, medita em palavras, escreve com o corpo.
Ciciosa, seu timbre é baixo, sua força está na solidão, poetisa, lê romances, Dostoievski, a caligrafia dos livros lhe atrai, as letras nas páginas amareladas são deleitosas, existir não é lógico, e o que atrapalha a vida é escrever.
Seus rabiscos íntimos já foram lidos, vasculhados, inúmeras vezes, outrora, o flerte, namorico, parceiro, era platônico, hoje ele é real, e ela é absolutamente só. Suas linhas são bruscas, o sentimentalismo é exacerbado, não existe piegas, apenas sensibilidade, vitrola, gramofone e grafonola. Sabe-se traduzir por meio da arte, da arquitetura urbanística, seus pesares existenciais. Tem alma, corpo, feição sensível.
O cinema é intrigante/interessante quando as imagens cinematográficas têm feitio preto e branco com efeito engajado. O medo de amar está estancado na película, casca, couro, na pele. Para fazer uma revolução é preciso mais do que uma frase de efeito, é preciso arrojo, atrevimento, ousadia. É difícil carregar estes atributos quando se é tímida, acanhada, calada. Porém a vida é uma roda viva. É como flutuar no ar como pássaros, é necessário tropeçar no céu como bêbados.
A prostituição é profana, própria do mundo contemporâneo, a cambolação retrata o engajamento dos carregadores no interior da África. A bagatela, a miséria, são imagens, reflexos.
A música de Buarque soa em segredo na vitrolinha ganhada pela bisavó, os tinteiros retratam o lirismo do vinil, dos discos. Apaixonei-me subitamente por fatos sem literatura, e o que escrevo é mais do que invenção seguida de um silêncio intimo.
Ana Luísa Nardin
Ciciosa, seu timbre é baixo, sua força está na solidão, poetisa, lê romances, Dostoievski, a caligrafia dos livros lhe atrai, as letras nas páginas amareladas são deleitosas, existir não é lógico, e o que atrapalha a vida é escrever.
Seus rabiscos íntimos já foram lidos, vasculhados, inúmeras vezes, outrora, o flerte, namorico, parceiro, era platônico, hoje ele é real, e ela é absolutamente só. Suas linhas são bruscas, o sentimentalismo é exacerbado, não existe piegas, apenas sensibilidade, vitrola, gramofone e grafonola. Sabe-se traduzir por meio da arte, da arquitetura urbanística, seus pesares existenciais. Tem alma, corpo, feição sensível.
O cinema é intrigante/interessante quando as imagens cinematográficas têm feitio preto e branco com efeito engajado. O medo de amar está estancado na película, casca, couro, na pele. Para fazer uma revolução é preciso mais do que uma frase de efeito, é preciso arrojo, atrevimento, ousadia. É difícil carregar estes atributos quando se é tímida, acanhada, calada. Porém a vida é uma roda viva. É como flutuar no ar como pássaros, é necessário tropeçar no céu como bêbados.
A prostituição é profana, própria do mundo contemporâneo, a cambolação retrata o engajamento dos carregadores no interior da África. A bagatela, a miséria, são imagens, reflexos.
A música de Buarque soa em segredo na vitrolinha ganhada pela bisavó, os tinteiros retratam o lirismo do vinil, dos discos. Apaixonei-me subitamente por fatos sem literatura, e o que escrevo é mais do que invenção seguida de um silêncio intimo.
Ana Luísa Nardin
Saturday, May 23, 2009
Letreiro
A escrita é como uma aptidão natural. Tenho afeição pelas palavras estas borram o céu límpido, azul, as nuvens brancas, cheia de pássaros. A casa de madeira em cima de uma árvore é dotada de letras, de caligrafias intimas de desenhos. O sol ás vezes mancha minhas páginas, o limbo das folhas. As dores borram o lirismo dos escritores.
Observo detalhes, olhares, gestos, movimentos expressivos de idéias, a beleza é nítida, as dores são camufladas, disfarçadas. Escondo segredos na escrita intrínseca, às vezes deparo com um mundo transcendental, sublime. O romance foi um engano.
Guardo tantos sentimentos, alguns são amargos, obscuros, outros são leves, doces e raros são desagradáveis, azedos como a fruta tamarindo. Têm momentos que penso que a escrita é um traço meu, intimo, ás vezes acho que esta é fruto da minha solidão, do vazio, do frívolo. O letreiro configura a tradução de meros sentimentos, de detalhes sem importância.
Fico desvairada com a imagem do espelho, com o reflexo literal de minhas letras, com as pérolas negras. Há tempos estou perdida na inspiração mundana, na composição poética pouco extensa, na qualidade dos versos, na música, no som representativo de uma letra, no próprio sentimentalismo.
Doce, guerreira, tropicalista de primeira hora. Diria que me renovo no samba, no chôro, que sou um ser mundano dotado de sentimentos que oscilam entre o real e o sublime.
Meu lirismo observa subúrbios, personagens reais surgem de um modo peculiar, do céu azul adentro a um mundo obscuro, frio, caio numa vala incompreensão, solidão profunda. Nossos universos não comungam não se tocam. Intercambiam informações, sensações, sentimentos e momentos, porém sem haver contato de uma essência.
Descrevo o aspecto dos olhos, a lástima, a fome, a penúria, a miséria ardente. E a casa de madeira se contradiz, com o morro, com os casebres miseráveis, com a favela. E meu olhar observa perplexo, o traço, as linhas, a feição mundana.
Reflexos surgem em minhas pérolas negras, adentro ao mundo adulto, deixo de lado as sapatilhas de bonecas, as trancinhas da infância, às madeiras foram borradas, as nuvens não carregam mais a pureza da infância. O que sobrou foram apenas folhas, queimadas pelo sol.
Ana Luísa Nardin
Observo detalhes, olhares, gestos, movimentos expressivos de idéias, a beleza é nítida, as dores são camufladas, disfarçadas. Escondo segredos na escrita intrínseca, às vezes deparo com um mundo transcendental, sublime. O romance foi um engano.
Guardo tantos sentimentos, alguns são amargos, obscuros, outros são leves, doces e raros são desagradáveis, azedos como a fruta tamarindo. Têm momentos que penso que a escrita é um traço meu, intimo, ás vezes acho que esta é fruto da minha solidão, do vazio, do frívolo. O letreiro configura a tradução de meros sentimentos, de detalhes sem importância.
Fico desvairada com a imagem do espelho, com o reflexo literal de minhas letras, com as pérolas negras. Há tempos estou perdida na inspiração mundana, na composição poética pouco extensa, na qualidade dos versos, na música, no som representativo de uma letra, no próprio sentimentalismo.
Doce, guerreira, tropicalista de primeira hora. Diria que me renovo no samba, no chôro, que sou um ser mundano dotado de sentimentos que oscilam entre o real e o sublime.
Meu lirismo observa subúrbios, personagens reais surgem de um modo peculiar, do céu azul adentro a um mundo obscuro, frio, caio numa vala incompreensão, solidão profunda. Nossos universos não comungam não se tocam. Intercambiam informações, sensações, sentimentos e momentos, porém sem haver contato de uma essência.
Descrevo o aspecto dos olhos, a lástima, a fome, a penúria, a miséria ardente. E a casa de madeira se contradiz, com o morro, com os casebres miseráveis, com a favela. E meu olhar observa perplexo, o traço, as linhas, a feição mundana.
Reflexos surgem em minhas pérolas negras, adentro ao mundo adulto, deixo de lado as sapatilhas de bonecas, as trancinhas da infância, às madeiras foram borradas, as nuvens não carregam mais a pureza da infância. O que sobrou foram apenas folhas, queimadas pelo sol.
Ana Luísa Nardin
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