Saturday, March 28, 2009

Pulseirinhas coloridas do Bom Fim

No metro de Sampa havia uma garota de bermuda verde, camiseta feminina de banda e sapatilhas de bailarina. Era interessante. Seus cabelos eram curtos, usava um grampo colorido no cabelo, do lado direito da cabeça. Era tão delicada, parecia frágil, porém seus olhos negros tinham uma fortaleza imensurável. Sabia de cor algumas músicas e as cantava mentalmente para passar o tempo.
A garota conseguia fugir dos tumultos urbanos, é fabuloso adentrar ao mundo subjetivo, desse modo cantava em um tom silencioso à música All I Need, conseguia lembrar da tradução de quase todas as músicas de Radiohead, da banda de estampa colorida de sua camiseta. Pensava que tudo estava errado, no que realmente necessitava, às vezes achava que para sobreviver era necessário livros, tinteiros, folhas antigas, trilhas sonoras, cinema cubano e de vez enquanto flertar com um especifico garoto na praça.

Até que se lembrou de um rapaz estranho, obscuro e distante, este usava um chapéu da moda, uma camisa desbotada e um anel comum, esquivo, singular e dourado na mão esquerda. A parede da memória da garota é iverossímel.
Um dia o rapaz sem mais nem menos disse a garota, de sapatilhas de bailarina, que os heróis revolucionários são fictícios, que os mesmos que lutaram contra as torturas um dia mataram, Fernando Meireles consegue confundir e bagunçar a cabeça dos jovens,disse num tom medíocre que os livros lascam-se, oxidam. A garota sentiu seu rosto arder.As palavras ditas pelo homem obscuro a afetou de tal modo que seu corpo sentiu o calafrio da fala chula, vulgar, seus olhos encheram-se de água, e afastou a imagem desse estranho de um modo brusco, violento.
Não esqueceu de suas utopias pelo contrario voltou à realidade do metro, estava perto de sua casa, olhou as suas pulseiras coloridas do Bom Fim algumas vermelhas, outras brancas e pretas, viu que todas as suas utopias estavam representadas em vários cordéis no seu braço.
E diante da realidade urbana do metro se deparou com uma menina e uma mãe que dizia palavrões chulos a filha, está choramingava com um som calmo, infantil, seus olhos eram de um esmeralda tão verde, doídos, seus cabelos eram anelados, curtos, seus pés sujos, suas roupas estavam manchadas e sua vida borrada. As lágrimas escorriam de seu rosto de um modo singelo, a menina tinha perdido as brincadeiras da infância, os piques, os gatos miam, as queimadas, apesar da pouca idade adentrava no mundo adulto, nas contradições suburbanas. Era demasiadamente sofrido ter apenas cinco anos de idade. Apesar dos palavrões mãe e filha possuíam uma sintonia indescritível, um afeto real, uma única semelhança ambas eram filhas do cinema marginal.
A garota sentiu ódio do rapaz de chapéu, alguns traços de semelhança com a guria, talvez os cabelos curtos, entendia a poesia contemporânea, camuflada e marginal. Desceu do metro, mas antes disso olhou nos olhos da menina e de um modo delicado lhe acenou um adeus, e a guria respondeu com uma lágrima borrando seu rosto e um sorriso manchando seus lábios. A garota entendeu que para sobreviver é preciso primeiramente enxergar os humanos, e depois os livros, os tinteiros e os namoricos.


Ana Luísa Nardin

Sunday, March 15, 2009

Antonieta

Havia sol, mato, o dia estava ameno e as nuvens brancas, a rapariga de all-star vermelho, escrevia sobre a personagem Antonieta era demasiadamente intrigante escrever com as folhas da árvore envelhecida se misturando ao lirismo das páginas e dos tinteiros límpidos, e assim inicia o conto da garota que se esconde num cômodo intimo.
A verdade é que existe um quarto dentro da personagem Antonieta, as paredes deste carregam três cores, uma vermelha, a outra branca e última era preta. Havia uma janela que era capaz de refletir a luz solar com ela a garota clareará suas subjetividade, mas dentro deste cômodo existia um criado mudo de madeira antiga, que apesar da mudez conseguia absorver todos os sentimentos, e estes ficavam escondidos nas gavetas envelhecidas.
Antonieta escondeu seus segredos e amores na tinta vermelha, na camuflagem de seus versos, escondeu os beijos e tranco-os na primeira gaveta, de um modo romântico, dualista e infantil. As fábulas de príncipes e Romeu já não lhe fascinam mais, infelizmente. Esta rapariga entrou para o mundo real fechou a gaveta dos contos de fadas de um modo brusco, que os barulhos da realidade lhe assustam, a garota sentiu desejos e os calafrios. Porém por trás das virtudes humanas existe o medo de se entregar loucamente, a realidade a surpreende de um modo belo, porém cruel, as traições da vida urbana lhe assua e sua boca fica seca, ás vezes trinca, mas não chega a sangrar, o sangue esta todo concentrado no tinteiro vermelho.
A cor branca por mais absurdo que parece causa calafrios em Antonieta, está cor é capaz de refletir todos os sentimentos, todas as dores, desde as mais singelas as mais corrosivas, o branco faz ela se lembrar da parede de um hospital, que se tornam pretas com o falecimento de entes realmente queridos. Porém a cor escura a faz ter nostalgia, lembranças, talvez à escuridão seja capaz de absorver todos os sentimentos bons, e não senti isso com a cor branca, tem raiva e ódio desta. O porquê de tanta raiva está revelado na segunda gaveta do cômodo mudo de um modo intimo, é quase um segredo.
E o criado mudo, que apesar de envelhecido, possuía apenas três gavetas a primeira guardava as virtudes da parede vermelha, a segunda guardava os mistérios da cor branca e ora oscilava com a obscuridade da morte, e a saudade de entes que um dia foi belo.
Havia a última gaveta e nesta estavam todos os rabiscos de Antonieta, entre estes se encontravam escritos íntimos, quadrinhos da Mafalda, algumas fotos antigas, bonecas envelhecidas, porcelanas quebradas, príncipes e princesas em folhas oxidadas, manchadas e apagadas.
A bolha de sabão da infância Antonieta mudou de cor, de tamanho e explodiu, de um modo demasiadamente belo e doido. E o silêncio do criado mudo absorveu todas as virtudes desta personagem que ora é interessante, ora tímida.

Ana Luísa Nardin

Saturday, March 14, 2009

Uma rapariga obscura

Havia noite, escuridão, chuva, as luzes da cidade mal conseguiam iluminar. E no meio da realidade urbana existia uma rapariga sentada com all-star vermelho, as pernas cruzadas, escrevia seus sentimentos, suas virtudes. Água da chuva com o seu som suave permitiram entrar num mundo sublime, íntimo, no mundo das dores, dos amores e dos encantos.
Não enxergava nada a sua volta, apenas observava a chuva, para ver se esta iria cessar, porém os sentimentos eram tantos que a garota não deseja o fim da chuva. Era intrigante e demasiadamente interessante escrever com os pingos de água manchando a folhas obscuras do papel. O tinteiro era vermelho, esta cor a faz lembrar dos seus amores que em suma são platônicos, camuflados e meio irreais.
O irreal em algumas horas é angustiante, não queria viver só de um mundo sublime, desejava a realidade crua e bela, buscava a completude humana, mas isto envolve revelar todos os sentimentos, todos os bichos papões, a dores mais profundas, a inúmeras doenças, as carências, a infância e demasiada saudade que só é bela quando se configura em nostalgia.
Esta rapariga era parecida com uma bela porcelana, porém à boneca já tinha trincado e se espatifado no assoalho de madeira. Hoje ela se perde em seus próprios sentimentos, nas lágrimas, na poesia, na intimidade dos seus versos, e nas fabulas de seus contos. Até o espelho a estranha.
A chuva cessou, a escuridão acabou, mas suas angustias ainda continuam nubladas, a necessidade de escrever continua pulsando nos sentimentos da garota, e enquanto for necessária esta continuará a revelar seus traços e seus rabiscos subjetivos.
Auxiliada por diferentes visões mundanas rapariga cai numa vala solidão, têm traços de uma mente romântica, idealista. Ao destruir alguns mitos se embriaga no próprio lirismo, na incompreensão de um eu – lírico, a moça já conhece a amargura do álcool, a tristeza da morte, as dores da vida, em alguns momentos anda nas pontas dos pés, para não assustar os adultos. Às vezes é invisível em outros momentos visível, mas nunca explicita.
O dia que puder a garota vai abandonar o mundo sublime e se unir a alguém ou a algo, mas aposto que vai sentir falta do seu eu. Eu incógnita, eu passageiro, eu sozinho, eu universo ...

Ana Luísa Nardin

Sunday, March 8, 2009

Uma rapariga picareta

Os rabiscos em letra de forma originam a verdadeira barbárie intima, algumas cartas foram escritas, lidas, outras queimadas e algumas por ventura entregues. Gosto dos papeis queimados, das folhas antigas, do cheiro de café, apesar de em alguns momentos querer esquecer o odor amargo impregnado nas páginas, porém muitas vezes minhas palavras têm algo real, romântico demais. O fato é que me escondo atrás de tinteiros. Estes são verdadeiros aliados.
O medo, a morte é muitas vezes explicita, temo o falecimento de todos, sinto saudades de entes realmente queridos, bisavós. A realidade se mostra paradoxal, as paixões também não são transcritas. Gosto de garotos intrigantes, mas eles nem sempre se apaixonam e o pior é que eu também não me deixo me envolver o meu corpo é dotado de uma barreira realmente intrigante, tímida e intima demais.
Sinto a solidão na pele, eu sou responsável por ela, talvez eu goste de ficar sozinha, o silêncio me faz bem, mas não sou fossa todos os dias. Aprecio a Bossa Nova, posso gostar de samba, de Chico, de Nara, até sei algumas poesias de Caetano, o rock and roll ainda é uma incógnita, viajo com Rolling Stones, danço com Beathes, e fico confusa com Ozzy.
Meus cabelos são curtos e escorridos, vivo num mundo paralelo, particularmente meu, não quero viver como garotas normais, desejo ver meu reflexo no espelho e entender que a beleza é algo realmente filosófico, e não aquilo que a sociedade dita. Queria ser completamente contemporânea, gosto do alternativo, aprecio a arte, quero usufruir dos livros estes me permitem a fugaz fuga da realidade, com eles consigo conhecer mundos imagináveis, dores realmente profundas e intrigantes.
Que as páginas sejam sempre meus companheiros, mas desejo também companheiros realmente humanos e reais, que há paixão um dia seja descoberta não como algo fictício. Mas como uma virtude real, que eu consiga me embriagar com o meu amor próprio e intimo que o meu corpo um dia perca a suposta timidez e eu me entregue loucamente ao gozo da vida.
Sonhos, são utopias pregadas pela própria sociedade, então quero criar minhas próprias utopias e junto com elas realizar todas minhas virtudes, que eu não tenho nada a temer, que desistir seja uma palavra tão cruel quanto o ciúme.
Consigo ser singela, leve, mas tenho obscuridades, minhas pérolas negras estão estampadas no meu olhar, carrego dores, medos, verdadeiros bicho papões, tenho pesadelos, por trás dos cabelos curtos, do olhar de moleca, existe um enigma quase indecifrável, às vezes sou dotada de uma fragilidade e ao mesmo tempo consigo ser fera.
A escrita ou o ato de escrever é alivio, prazer, lazer, a verdade é que escondo meus segredos atrás dos tinteiros, e assim crio um mundo intimo, é nessa intimidade guardo amigos, amores, segredos e piadas, algumas virtudes intimas nunca vão ser desmanchadas. A bolha da infância mudou de cor, de tamanho, e por fim explodiu.

Ana Luísa Nardin