Saturday, March 14, 2009

Uma rapariga obscura

Havia noite, escuridão, chuva, as luzes da cidade mal conseguiam iluminar. E no meio da realidade urbana existia uma rapariga sentada com all-star vermelho, as pernas cruzadas, escrevia seus sentimentos, suas virtudes. Água da chuva com o seu som suave permitiram entrar num mundo sublime, íntimo, no mundo das dores, dos amores e dos encantos.
Não enxergava nada a sua volta, apenas observava a chuva, para ver se esta iria cessar, porém os sentimentos eram tantos que a garota não deseja o fim da chuva. Era intrigante e demasiadamente interessante escrever com os pingos de água manchando a folhas obscuras do papel. O tinteiro era vermelho, esta cor a faz lembrar dos seus amores que em suma são platônicos, camuflados e meio irreais.
O irreal em algumas horas é angustiante, não queria viver só de um mundo sublime, desejava a realidade crua e bela, buscava a completude humana, mas isto envolve revelar todos os sentimentos, todos os bichos papões, a dores mais profundas, a inúmeras doenças, as carências, a infância e demasiada saudade que só é bela quando se configura em nostalgia.
Esta rapariga era parecida com uma bela porcelana, porém à boneca já tinha trincado e se espatifado no assoalho de madeira. Hoje ela se perde em seus próprios sentimentos, nas lágrimas, na poesia, na intimidade dos seus versos, e nas fabulas de seus contos. Até o espelho a estranha.
A chuva cessou, a escuridão acabou, mas suas angustias ainda continuam nubladas, a necessidade de escrever continua pulsando nos sentimentos da garota, e enquanto for necessária esta continuará a revelar seus traços e seus rabiscos subjetivos.
Auxiliada por diferentes visões mundanas rapariga cai numa vala solidão, têm traços de uma mente romântica, idealista. Ao destruir alguns mitos se embriaga no próprio lirismo, na incompreensão de um eu – lírico, a moça já conhece a amargura do álcool, a tristeza da morte, as dores da vida, em alguns momentos anda nas pontas dos pés, para não assustar os adultos. Às vezes é invisível em outros momentos visível, mas nunca explicita.
O dia que puder a garota vai abandonar o mundo sublime e se unir a alguém ou a algo, mas aposto que vai sentir falta do seu eu. Eu incógnita, eu passageiro, eu sozinho, eu universo ...

Ana Luísa Nardin

2 comments:

  1. This comment has been removed by the author.

    ReplyDelete
  2. Esse é o meu preferido! Te vejo em cada linha, em cada palavra escrita...
    e me identifico mto!

    Ana! seus textos são lindoss!!
    e pra minha felicidade nunca deixe de postá-los!

    bjuuss
    adoro-te =**

    ReplyDelete