Saturday, May 23, 2009

Letreiro

A escrita é como uma aptidão natural. Tenho afeição pelas palavras estas borram o céu límpido, azul, as nuvens brancas, cheia de pássaros. A casa de madeira em cima de uma árvore é dotada de letras, de caligrafias intimas de desenhos. O sol ás vezes mancha minhas páginas, o limbo das folhas. As dores borram o lirismo dos escritores.
Observo detalhes, olhares, gestos, movimentos expressivos de idéias, a beleza é nítida, as dores são camufladas, disfarçadas. Escondo segredos na escrita intrínseca, às vezes deparo com um mundo transcendental, sublime. O romance foi um engano.
Guardo tantos sentimentos, alguns são amargos, obscuros, outros são leves, doces e raros são desagradáveis, azedos como a fruta tamarindo. Têm momentos que penso que a escrita é um traço meu, intimo, ás vezes acho que esta é fruto da minha solidão, do vazio, do frívolo. O letreiro configura a tradução de meros sentimentos, de detalhes sem importância.
Fico desvairada com a imagem do espelho, com o reflexo literal de minhas letras, com as pérolas negras. Há tempos estou perdida na inspiração mundana, na composição poética pouco extensa, na qualidade dos versos, na música, no som representativo de uma letra, no próprio sentimentalismo.
Doce, guerreira, tropicalista de primeira hora. Diria que me renovo no samba, no chôro, que sou um ser mundano dotado de sentimentos que oscilam entre o real e o sublime.
Meu lirismo observa subúrbios, personagens reais surgem de um modo peculiar, do céu azul adentro a um mundo obscuro, frio, caio numa vala incompreensão, solidão profunda. Nossos universos não comungam não se tocam. Intercambiam informações, sensações, sentimentos e momentos, porém sem haver contato de uma essência.
Descrevo o aspecto dos olhos, a lástima, a fome, a penúria, a miséria ardente. E a casa de madeira se contradiz, com o morro, com os casebres miseráveis, com a favela. E meu olhar observa perplexo, o traço, as linhas, a feição mundana.
Reflexos surgem em minhas pérolas negras, adentro ao mundo adulto, deixo de lado as sapatilhas de bonecas, as trancinhas da infância, às madeiras foram borradas, as nuvens não carregam mais a pureza da infância. O que sobrou foram apenas folhas, queimadas pelo sol.

Ana Luísa Nardin

9 comments:

  1. É encantadora e sutil a forma como vc demonstra seus sentimentos.

    Ana Luísa, vc é linda!
    =***

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  2. As palavras que saem espontaneamente de nós, não são nada além de nós mesmos! E o que escrevemos são nossas emoções, vem dos nossos sentidos! Nem a ficção escapa!

    Beijos.

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  3. E quanto lirismo hein?!
    A verdade é que a escrita vicia a quase todos. Felizmente pessoas com o teu talento se deixam dominar por esse vício e fazem textos tão agradáveis de serem lidos.

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  4. pô, demorou pra colocar um texto novo, hein?!?!
    tava esperando...

    excelente, vc escreve mt bem mesmo, com um estilo q eu curto mt!

    bjos!

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  5. Deixei uma seta sobre seu blog no meu bloguinho. Apareça.
    Abraço e bom final de semana.

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  6. Visitando o blog da Clarice achei o seu. Um presente que agradeço. Na aridez do mundo, onde o sentimento cada vez mais se ausenta, acha-lo na figura de uma linda pessoa e nas suas escritas é revigorante. Agenor

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  7. A escrita pode não ser um fruto da solidão, mas que cresce na solidão, não uma solidão silenciosa, ao contrário, uma solidão ruidosa, cheia de vida, que vive quando, e enquanto, é escrita.

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  8. Belas palavras! E o meu subúrbio transborda lirismo! ;)

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  9. Ana Luísa Nardin é nome de escritora! Adorei os textos e coloquei um link lá no pensamentos...

    bjs

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