Friday, January 29, 2010

Hélio

Os escritos eram envelhecidos, ás paginas eram antigas, o caderno era preto tinha traços, linhas, rabiscos de um menino, garoto, rapaz. A caligrafia, maneira de escrever, o modo como segurava o tinteiro, pincel, retratava seu feitio poético, com delineamento da bossa nova.
Hélio não era comum, era garoto, nunca soube ao certo como se escrevia uma carta de amor, sentir, tocar, escrever é demasiadamente difícil, para ele as moças tinham algo de poético, fantasioso, gostava do lirismo, do mistério, da quietude das donzelas. Vivia no mundo paralelo dos artistas, seus desenhos, sua arte plástica tinha um feitio quase que indescritível, com rabiscos contemporâneos, seus olhos eram de uma claridade incontida, seu charme estava nos livros, nos discos, nos versos, na poesia que compunha, ele era real, mas tinha medo da paixão, da perturbação, do amor ardente, violento. Não sabia como tocar, sentir, magoar, compor as raparigas, elas eram demasiadamente interressantes, porém tão intrigantes, de um lirismo exacerbado, donas de um mistério cálido.
Gostava de Zilda, de Helena, e de Cecília esta última era dona de uns olhos negros, seus lábios eram rubro, vermelhos, rosados, seus cabelos com tom ruivo, de uma doçura, brandura, meiguice, cantava bossa nova, seu ídolo era Tom Jobim, mas cantava Cartola de um modo tão doce. Cecília não era comum, tão pouco vulgar, ás vezes sua beleza passava despercebida pelos rapazes, porém Hélio sentia se atraído por aquela rapariga, filha de pais alcoólatras, de uma família torta, mas existia uma cumplicidade quase que real entre seus entes queridos, viviam de samba, era filha de intelectuais, porém alguns deles caem na desgraça ou virtude da boêmia.
O que intrigava Hélio era o fato de não conseguir tocar, aproximar se de Cecília era demasiadamente difícil, observa – lá de longe era tão bom,graciosa, ela era cheia de contradições, incoerências. Era distante, próxima, fria, bonita, feia, tímida, porém seu corpo era silencioso e gritante. Fácil era pintar, esculpir seu rosto em telas brandas, cálidas, sua beleza era única, ímpar, e o amor de Hélio por Cecília era platônico, tímido, romântico.
Espinhoso não era escrever uma carta de amor, e sim tocar os lábios rubros, vermelhos, sentir o calor de dois corpos, o arder da juventude pulsava tanto em Hélio, quanto em Cecília, ambos foram cúmplices de romance forjado, pouco duradouro, porém cálido, intenso. Ele não havia enamorado apenas Cecília, existia Zilda e Helena. E ela era contemporânea filha de intelectuais, interessante ao seu modo diria Tom Jobim.
A juventude é serena, cruel, nos resta beber doces ardidas de uísque, taças de vinho tinto, bailar com sapatinhos de bailarinas, flertarem, compor, escrever, esculpir. E não deixar que eu-poético morra dentro de nós.

Ana Luísa Nardin

2 comments:

  1. Tem um pouco de ironia a vida: os meninos temem o espelho da mãe que eles descobrem nas garotas. É quase como montar um quebra-cabeças de fumaça, sem conhecer o desenho. Somos mistério puro para eles.
    Talvez por isso eles sejam tão fáceis de conquistar, né? hihihi
    Acho uma das coisas mais fantásticas estudar e acompanhar o desenvolvimento da mente e emoções em busca do amadurecimento, do qual queremos fugir quando o encontramos.
    Beijos.

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  2. me vejo um pouco em Hélio.

    A juventude é serena, cruel, nos resta beber doces ardidas de uísque, taças de vinho tinto, bailar com sapatinhos de bailarinas, flertarem, compor, escrever, esculpir. E não deixar que eu-poético morra dentro de nós. nunca esquecerei esse trecho

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