Monday, February 21, 2011

Uma rapariga intrigante

A rapariga dos olhos negros, dos pés de bailarina, dos lábios vermelhos contem traços de uma donzela qualquer, mas, é cheia de frases indescritíveis, de versos assombrosos, de falas singelas, é uma mistura de timidez com ousadia, de contemporâneo com pós-moderno, de eu com min.
A rapariga observa a arte como uma metáfora, num cenário em que as obras permanecem vão além dos espelhos, os quadros continuam existindo, o mundo fica e as pessoas tornam-se im-per-ma-nen-tes, falecem com o tempo, passam a fazer parte de um período finito mas, o seu eu-artístico fica nas estradas mundanas, no infinito das páginas amarelas.
A loucura dos artistas lhe fascina, a roda das ciências humanas a deixa translucida, gosta da arte das bailarinas, da permanência artística, dos muros pixados na madrugada, da dança contemporânea, de bailar nas pontas dos pés, de flertar com os caras mais diferentes, de ler os livros mais antigos, de escrever as coisas mais absurdas, de rir sem motivos, de fumar paiero, de beber as bebidas alcoólicas mais ardidas e de chorar de saudades.
Na intimidade da noite, ao som da madrugada dois corpos despidos se tocam, bailam, existindo cumplicidade, arte, vitrola, a rapariga gosta de acreditar que pode ser livre, contemporânea, pós-moderna como os quadros de Tarsila porém, era necessário paixão, e isto a rapariga não sabia dizer se sentia por ele, sentia-se confusa, não conseguia definir seu sentimento por aquele camarada de tão pouco tempo, a não definição deixava-a perturbada, sentia medo de se tornar clichê mas, o afeto, a delicadeza por aquele ser diferente era nítido mas, a realidade é bem distante das utopias mundanas.
O mundo é sutil ao ponto de ser singelo, existe um que de surreal, a sensação de um preto com contraste branco, da parede vermelha com quadrinhos pregados de moldura amarela, da pobreza com a luxuria dos ricos, a favela, a cidade, ás histórias, era tudo tão estranho, como conseguir pintar nuvens em uma tela nublada, chuvosa, como ser e não ter.
Ela uma menina da humanas, rapariga qualquer, engajada, dona dos olhos negros, de um sorriso marcante, dos quadros mais interessantes, o curioso é que ele sabe o quão diferente ela é, e ela sabe que ele poderia vir a ser seu parceiro. Ela gosta de seus discos, de seus quadros, e de seus filmes, mas, gostou do modo sutil como seus corpos se encontram, do modo doce como os lábios se tocam, mas, não sabia dizer para as outras raparigas se era o começo ou o fim de um romance qualquer.
O que a rapariga deseja é ser ela, antes de tudo um ser humano, com muito mais sentimento do que carne ou osso, um ser mundano, que consiga enxergar a arte no cotidiano, o belo no feio, a leveza no sutil, ser espontânea, nunca forçar o outro mas, pela lei de Buarque a gente era obrigado a ser feliz.

Ana Luísa Nardin

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