Saturday, May 9, 2009

Rapariga intrínseca

Perdidas no lirismo, no gênero de composição poética, na inspiração, no frívolo, no sítio sombrio encontraram afeição recíproca.
Lis era teatral, artística, meiga, singela, única. Seu nome -Amarílis- era peculiar, exótico, diferente, significa pedra preciosa, flor. Rapariga magnífica, cheia de encantos, habilidades, pétalas. Seu estilo, sua maneira de dizer, pintar, esculpir, escrever, é ímpar. Seus cabelos são longos, duradouros, extensos. Suas unhas têm cores Havana, seus lenços vermelhos são cubanos, seu all star verde é intrínseco. Usa um anel próprio, textual, adequado, prata na mãe esquerda. Têm traços indecifráveis, não se pode ler ou interpretar, apenas admirar. Gosta de rock, da música de gênero popular, da década de 1950, de batidas, de ritmos fortes, das guitarras elétricas, das baterias.
O rock une um ritmo rápido, carrega consigo traços de músicas negras. Apesar de no decorrer de sua história o rock and roll ter ficado mais marcado por astros brancos, deve-se aos negros, escravos, a criação da estrutura rítmica e melódica que seria a base do rock. Os cantos entoados pelos negros durante o trabalho, no início do século XX dariam origem ao Blues (do inglês azul, usado para designar pessoa de pele escura, bem como tristeza ou melancolia).
Entendida de música a rapariga Havana sabia de cor versinhos, músicas e poesias. Sua banda preferida dos últimos tempos é Móveis Coloniais de Acaju.
Amarílis de fato é uma flor diriam que é melódica, singular, carrega consigo traços fortes, marcantes, segue num mundo paralelo, único. Seus caminhos são cheios de dores, pesares, amores, espinhos, flertes. Sua timidez, acanhamento,o desembaraço da sua voz baixa, suas frases condizem com o seu charme. As realidades sublimes, reais, intrínsecas, borram as frases de Lis e a torna mais bela. Seu lirismo está em prudência, de acordo com sua existência, escrita mundana.

Ana Luísa Nardin

Monday, April 20, 2009

A pequena Afegã

Olga era ruiva, seus cabelos espigados em cachos, sua pele com um tom sereno, seus olhos eram ímpares, únicos. Uma personagem peculiar, intrínseca, real, mas em longos momentos têm feixes irreais. Vivia de livros, romances, se perdia nas palavras, na arte de versificação. Sofrida, filha de afegãos. Descriminada pelo regime Talibã, sua mãe assim como todas as mulheres afegãs usava um vestido preto, esquivo, que cobria o corpo desde a cabeça até os pés, com apenas uma única abertura na zona dos olhos, este vestuário escárnio se chama burca.
A menina dos cabelos espigados tinha traços, linha, feitio afegão, era vítima de um regime que queimava livros, artigos, história. Porém seu pai ensinou a ler, sua mãe deu livros clandestinos, a pirataria de escritos é camuflada, interessante, engraçada. São poucos os que sobrevivem de obras literárias em época tão conturbada.
A pequena dos olhos ímpares era diferente das outras, exceção. A maioria das mulheres era obrigada a se casar, escolas femininas eram proibidas, as garotas se casam em geral aos 12 anos. O casamento, a união, o vínculo entre um homem e uma mulher envolve um ritual financeiro, geralmente a noiva conhece o noivo no dia do casamento, o afeto anterior, feminino, masculino é muitas vezes inexistente, irreal. Olga não se casou, pelo contrário se apaixonou secretamente por um jornalista, trama proibida, dissimulada. Durou pouco o romance, diria que foi um flerte escasso. Neste mundo pode-se amar apenas secretamente, mentalmente, subjetivamente, discretamente. Não deixe os Deuses, nem a sociedade Talibã saber que apóia jornalistas europeus, brasileiros, estes são considerados marginais da literatura.
A personagem dos cabelos ruivos sobreviveu ao mundo islâmico, viu a queda do temível regime Talibã. Em tempos difíceis os livros foram refúgios, lia secretamente, de tudo: comunismo, anarquismo, poemas, romances, versinhos, sabia até algumas letras de músicas contemporâneas. Seu pai era um grande pirata de livros, outrora, foi preso, torturado, subjugado, condenado.
Entretanto, as mulheres estavam demasiadamente marcadas pelo terror, receio, susto, muitas ainda têm medo de tirar a escarna burca. Poucas, raras têm traços tão belos, doces, leves como da pequena Olga, a maioria perdeu a esperança, a descrença está descrita em seus olhos, o medo estala em suas vidas, mal sabem das virtudes dos livros. E assim torna-se difícil sobreviver, compreender um mundo tão contraditório, intrínseco, desumano. A escrita é apenas uma denúncia dos segredos mundanos.

Ana Luísa Nardin

Friday, April 10, 2009

Sensibilidade de uma lírica

A causa xadrez, o lenço violeta, à sapatilha roxa, as unhas vermelhas. Os cabelos são curtos e têm cor de amora. A delicadeza está nos anéis ganho pela bisavó, nas trancinhas no cabelo, na doçura, no charme do batom vermelho.
A suavidade da escrita está combinando com elegância dos avós, com a mulher formosa, embriagada, cheia de entusiasmo.
O choro é delicado, brando, pouco custoso, real. A distancia entre Minas Gerais e São Paulo é demasiadamente doido. Lembre-se do bisavô que já se foi de um modo sereno, limpo de nuvens, tranqüilo, puro. Não queremos odiar a morte, mas nos aborrecemos com a ausência. Sinta á lagrima arder, não tenha vergonha da sensibilidade de um eu-lírico perturbado com o mundo. Acreditem em tudo que os avós dizem, eles são sábios, e cheios de orgulho. Um dia eles cessam, extinguem e se vão.
Se perca na ligeireza dos olhos verdes, na música dos negros, no samba de raiz. Não sabemos mais o que real e o que é sublime. Sinta raiva, todos se vão um dia, vocifere de saudades, dance até os pés formigarem, abrace aquele camarada, beije aqueles que te causam calafrios, desejos, perturbações, sonhos e pesadelos.
Lembre-se do gaiato que flertava outrora, do travesso de expressão leve, doce, singela, que ambos gostam de Chico, sabem versinhos de Tom, talvez um dia encontrem-se no mundo real, paralelo e intimo. Não se esqueça dos olhos claros se misturando ao lirismo das pérolas negras. Sinta raiva dos namoricos, mas estes vão e vem.
Escreva ate os calos arderem em chamas, sangrarem, e em pouco segundos o alivio, a meiguice, ternura se desmancham nas folhas de pergaminhos amargo. A escrita trás a leviandade de volta, as dores são internas e intimas.
Não se preocupe se a causa xadrez não combina com o lenço violeta. Goze, divirta-se, esqueça as regras, os tabus, as chatices, por longos segundos permita-se viver. Tome um porre de ficar zonza, bêbeda, louca e cante Raul Seixas com os andarilhos de rua, grite, ouça o seu eco. Viva loucamente e intensamente. Esqueça os comentários mirabolantes, lembre-se apenas dos poemas, do lirismo marginal dos poetas.
Então continue escrevendo tudo, angustias, desejos, sonhos, mas principalmente sobre a delicadeza e fragilidade da vida. É difícil viver na transição de um próprio eu – lírico, é espinhoso entender os humanos, o quão interessantes e intrigantes somos.

Ana Luísa Nardin

Friday, April 3, 2009

Meninice

Há algum tempo venho escrevendo sobre o agora, de um jeito cortês, frágil, elegante, porém sou cheia de espinhos, de saliências e contradições. Gosto da arte de escrever, dos bilhetes, dos manuscritos, das cartas, dos meus segredos. Aprecio a caligrafia intima, magistral.Os versos, o lirismo dos poemas, os romances escassos, são todos os refúgios de uma rapariga que oscila entre o ser menina e mulher.
Sou aquela que não se pode ler tão pouco interpretar, ás vezes um verdadeiro mistério dotado de cautelas indecifráveis, cheia de encantos e desencantos. Aprecio minhas risadas tímidas, as gracinhas espontâneas, meus comentários mirabolantes. Rabiscos intrigantes e interessantes surgem na minha vida de uma maneira inocente.
Neta do chocolate amargo, do gosto ardido da tequila, dos merengues de morango, das películas melancólicas, da música cubana, da arte contemporânea.
As semelhanças com bonecas, bailarinas, princesas, porcelanas são todas fictícias, irreais, sou feita de carne, osso e sentimentos. Estes são capazes de corroer, de subjugar, de reprimir, mas são cheios de ligeirezas.
É difícil adentrar ao mundo dos homens, aceitar a chatice mundana, o egoísmo dos humanos me causa náuseas. As minhas incoerências, os erros são absurdos, o meu casulo é improvável. As manias da meninice estão intactas, o hábito de roer unhas oscila, ando nas pontas dos pés durante um ato de maluquice, e quando dialogo com garotos que acredito serem realmente interessantes seguro minhas mãos para trás, de um modo delicado, sei que é ridículo e cômico, mas elas tremem bruscamente.
E assim vivo na intimidade de um eu poético, bebo do meu próprio lirismo, flerto com rapazes que subjugo interessante, porém é difícil saber se o gaiato é belo, formoso, agradável, o quão airoso é.
A infância se desmantela aos poucos, as folhas da memória oxidam-se vagarosamente, como nos livros antigos de páginas amarelas do meu avô, ficam apenas as palavras negras, fortes. Lembranças marcantes que oscilam entre sentimentos belos e ruins. Conhecer a morte é demasiadamente doloroso, o vazio, a molesta, a nostalgia que fica é indescritível.
José se foi aos 93 anos e era belo, intelectual, elegante, o bisavô me contava histórias fabulosas, para min um verdadeiro herói de cinema preto em branco, daqueles que eu nunca vou esquecer. Sua foto esta estampada na minha memória, e no piano de madeira antiga da sala.
E assim me desembaralho, os poucos vão entendendo a realidade cruel, as contradições de um mundo indecifrável. A menina ainda está dentro de min de um modo singelo, odiando a morte, mas ás vezes teme é a vida, viver é mais complexo do que aparenta.


Ana Luísa Nardin

Saturday, March 28, 2009

Pulseirinhas coloridas do Bom Fim

No metro de Sampa havia uma garota de bermuda verde, camiseta feminina de banda e sapatilhas de bailarina. Era interessante. Seus cabelos eram curtos, usava um grampo colorido no cabelo, do lado direito da cabeça. Era tão delicada, parecia frágil, porém seus olhos negros tinham uma fortaleza imensurável. Sabia de cor algumas músicas e as cantava mentalmente para passar o tempo.
A garota conseguia fugir dos tumultos urbanos, é fabuloso adentrar ao mundo subjetivo, desse modo cantava em um tom silencioso à música All I Need, conseguia lembrar da tradução de quase todas as músicas de Radiohead, da banda de estampa colorida de sua camiseta. Pensava que tudo estava errado, no que realmente necessitava, às vezes achava que para sobreviver era necessário livros, tinteiros, folhas antigas, trilhas sonoras, cinema cubano e de vez enquanto flertar com um especifico garoto na praça.

Até que se lembrou de um rapaz estranho, obscuro e distante, este usava um chapéu da moda, uma camisa desbotada e um anel comum, esquivo, singular e dourado na mão esquerda. A parede da memória da garota é iverossímel.
Um dia o rapaz sem mais nem menos disse a garota, de sapatilhas de bailarina, que os heróis revolucionários são fictícios, que os mesmos que lutaram contra as torturas um dia mataram, Fernando Meireles consegue confundir e bagunçar a cabeça dos jovens,disse num tom medíocre que os livros lascam-se, oxidam. A garota sentiu seu rosto arder.As palavras ditas pelo homem obscuro a afetou de tal modo que seu corpo sentiu o calafrio da fala chula, vulgar, seus olhos encheram-se de água, e afastou a imagem desse estranho de um modo brusco, violento.
Não esqueceu de suas utopias pelo contrario voltou à realidade do metro, estava perto de sua casa, olhou as suas pulseiras coloridas do Bom Fim algumas vermelhas, outras brancas e pretas, viu que todas as suas utopias estavam representadas em vários cordéis no seu braço.
E diante da realidade urbana do metro se deparou com uma menina e uma mãe que dizia palavrões chulos a filha, está choramingava com um som calmo, infantil, seus olhos eram de um esmeralda tão verde, doídos, seus cabelos eram anelados, curtos, seus pés sujos, suas roupas estavam manchadas e sua vida borrada. As lágrimas escorriam de seu rosto de um modo singelo, a menina tinha perdido as brincadeiras da infância, os piques, os gatos miam, as queimadas, apesar da pouca idade adentrava no mundo adulto, nas contradições suburbanas. Era demasiadamente sofrido ter apenas cinco anos de idade. Apesar dos palavrões mãe e filha possuíam uma sintonia indescritível, um afeto real, uma única semelhança ambas eram filhas do cinema marginal.
A garota sentiu ódio do rapaz de chapéu, alguns traços de semelhança com a guria, talvez os cabelos curtos, entendia a poesia contemporânea, camuflada e marginal. Desceu do metro, mas antes disso olhou nos olhos da menina e de um modo delicado lhe acenou um adeus, e a guria respondeu com uma lágrima borrando seu rosto e um sorriso manchando seus lábios. A garota entendeu que para sobreviver é preciso primeiramente enxergar os humanos, e depois os livros, os tinteiros e os namoricos.


Ana Luísa Nardin

Sunday, March 15, 2009

Antonieta

Havia sol, mato, o dia estava ameno e as nuvens brancas, a rapariga de all-star vermelho, escrevia sobre a personagem Antonieta era demasiadamente intrigante escrever com as folhas da árvore envelhecida se misturando ao lirismo das páginas e dos tinteiros límpidos, e assim inicia o conto da garota que se esconde num cômodo intimo.
A verdade é que existe um quarto dentro da personagem Antonieta, as paredes deste carregam três cores, uma vermelha, a outra branca e última era preta. Havia uma janela que era capaz de refletir a luz solar com ela a garota clareará suas subjetividade, mas dentro deste cômodo existia um criado mudo de madeira antiga, que apesar da mudez conseguia absorver todos os sentimentos, e estes ficavam escondidos nas gavetas envelhecidas.
Antonieta escondeu seus segredos e amores na tinta vermelha, na camuflagem de seus versos, escondeu os beijos e tranco-os na primeira gaveta, de um modo romântico, dualista e infantil. As fábulas de príncipes e Romeu já não lhe fascinam mais, infelizmente. Esta rapariga entrou para o mundo real fechou a gaveta dos contos de fadas de um modo brusco, que os barulhos da realidade lhe assustam, a garota sentiu desejos e os calafrios. Porém por trás das virtudes humanas existe o medo de se entregar loucamente, a realidade a surpreende de um modo belo, porém cruel, as traições da vida urbana lhe assua e sua boca fica seca, ás vezes trinca, mas não chega a sangrar, o sangue esta todo concentrado no tinteiro vermelho.
A cor branca por mais absurdo que parece causa calafrios em Antonieta, está cor é capaz de refletir todos os sentimentos, todas as dores, desde as mais singelas as mais corrosivas, o branco faz ela se lembrar da parede de um hospital, que se tornam pretas com o falecimento de entes realmente queridos. Porém a cor escura a faz ter nostalgia, lembranças, talvez à escuridão seja capaz de absorver todos os sentimentos bons, e não senti isso com a cor branca, tem raiva e ódio desta. O porquê de tanta raiva está revelado na segunda gaveta do cômodo mudo de um modo intimo, é quase um segredo.
E o criado mudo, que apesar de envelhecido, possuía apenas três gavetas a primeira guardava as virtudes da parede vermelha, a segunda guardava os mistérios da cor branca e ora oscilava com a obscuridade da morte, e a saudade de entes que um dia foi belo.
Havia a última gaveta e nesta estavam todos os rabiscos de Antonieta, entre estes se encontravam escritos íntimos, quadrinhos da Mafalda, algumas fotos antigas, bonecas envelhecidas, porcelanas quebradas, príncipes e princesas em folhas oxidadas, manchadas e apagadas.
A bolha de sabão da infância Antonieta mudou de cor, de tamanho e explodiu, de um modo demasiadamente belo e doido. E o silêncio do criado mudo absorveu todas as virtudes desta personagem que ora é interessante, ora tímida.

Ana Luísa Nardin

Saturday, March 14, 2009

Uma rapariga obscura

Havia noite, escuridão, chuva, as luzes da cidade mal conseguiam iluminar. E no meio da realidade urbana existia uma rapariga sentada com all-star vermelho, as pernas cruzadas, escrevia seus sentimentos, suas virtudes. Água da chuva com o seu som suave permitiram entrar num mundo sublime, íntimo, no mundo das dores, dos amores e dos encantos.
Não enxergava nada a sua volta, apenas observava a chuva, para ver se esta iria cessar, porém os sentimentos eram tantos que a garota não deseja o fim da chuva. Era intrigante e demasiadamente interessante escrever com os pingos de água manchando a folhas obscuras do papel. O tinteiro era vermelho, esta cor a faz lembrar dos seus amores que em suma são platônicos, camuflados e meio irreais.
O irreal em algumas horas é angustiante, não queria viver só de um mundo sublime, desejava a realidade crua e bela, buscava a completude humana, mas isto envolve revelar todos os sentimentos, todos os bichos papões, a dores mais profundas, a inúmeras doenças, as carências, a infância e demasiada saudade que só é bela quando se configura em nostalgia.
Esta rapariga era parecida com uma bela porcelana, porém à boneca já tinha trincado e se espatifado no assoalho de madeira. Hoje ela se perde em seus próprios sentimentos, nas lágrimas, na poesia, na intimidade dos seus versos, e nas fabulas de seus contos. Até o espelho a estranha.
A chuva cessou, a escuridão acabou, mas suas angustias ainda continuam nubladas, a necessidade de escrever continua pulsando nos sentimentos da garota, e enquanto for necessária esta continuará a revelar seus traços e seus rabiscos subjetivos.
Auxiliada por diferentes visões mundanas rapariga cai numa vala solidão, têm traços de uma mente romântica, idealista. Ao destruir alguns mitos se embriaga no próprio lirismo, na incompreensão de um eu – lírico, a moça já conhece a amargura do álcool, a tristeza da morte, as dores da vida, em alguns momentos anda nas pontas dos pés, para não assustar os adultos. Às vezes é invisível em outros momentos visível, mas nunca explicita.
O dia que puder a garota vai abandonar o mundo sublime e se unir a alguém ou a algo, mas aposto que vai sentir falta do seu eu. Eu incógnita, eu passageiro, eu sozinho, eu universo ...

Ana Luísa Nardin