Fotografia muda, sem fala, imagem preta com traços, riscos brancos, olhar distante, dançarina contemporânea, beletrista disfarçada. Vive no ermo, anacoreta, abandonada de todos, foge de convivência. Silenciosa, medita em palavras, escreve com o corpo.
Ciciosa, seu timbre é baixo, sua força está na solidão, poetisa, lê romances, Dostoievski, a caligrafia dos livros lhe atrai, as letras nas páginas amareladas são deleitosas, existir não é lógico, e o que atrapalha a vida é escrever.
Seus rabiscos íntimos já foram lidos, vasculhados, inúmeras vezes, outrora, o flerte, namorico, parceiro, era platônico, hoje ele é real, e ela é absolutamente só. Suas linhas são bruscas, o sentimentalismo é exacerbado, não existe piegas, apenas sensibilidade, vitrola, gramofone e grafonola. Sabe-se traduzir por meio da arte, da arquitetura urbanística, seus pesares existenciais. Tem alma, corpo, feição sensível.
O cinema é intrigante/interessante quando as imagens cinematográficas têm feitio preto e branco com efeito engajado. O medo de amar está estancado na película, casca, couro, na pele. Para fazer uma revolução é preciso mais do que uma frase de efeito, é preciso arrojo, atrevimento, ousadia. É difícil carregar estes atributos quando se é tímida, acanhada, calada. Porém a vida é uma roda viva. É como flutuar no ar como pássaros, é necessário tropeçar no céu como bêbados.
A prostituição é profana, própria do mundo contemporâneo, a cambolação retrata o engajamento dos carregadores no interior da África. A bagatela, a miséria, são imagens, reflexos.
A música de Buarque soa em segredo na vitrolinha ganhada pela bisavó, os tinteiros retratam o lirismo do vinil, dos discos. Apaixonei-me subitamente por fatos sem literatura, e o que escrevo é mais do que invenção seguida de um silêncio intimo.
Ana Luísa Nardin
Saturday, June 6, 2009
Saturday, May 23, 2009
Letreiro
A escrita é como uma aptidão natural. Tenho afeição pelas palavras estas borram o céu límpido, azul, as nuvens brancas, cheia de pássaros. A casa de madeira em cima de uma árvore é dotada de letras, de caligrafias intimas de desenhos. O sol ás vezes mancha minhas páginas, o limbo das folhas. As dores borram o lirismo dos escritores.
Observo detalhes, olhares, gestos, movimentos expressivos de idéias, a beleza é nítida, as dores são camufladas, disfarçadas. Escondo segredos na escrita intrínseca, às vezes deparo com um mundo transcendental, sublime. O romance foi um engano.
Guardo tantos sentimentos, alguns são amargos, obscuros, outros são leves, doces e raros são desagradáveis, azedos como a fruta tamarindo. Têm momentos que penso que a escrita é um traço meu, intimo, ás vezes acho que esta é fruto da minha solidão, do vazio, do frívolo. O letreiro configura a tradução de meros sentimentos, de detalhes sem importância.
Fico desvairada com a imagem do espelho, com o reflexo literal de minhas letras, com as pérolas negras. Há tempos estou perdida na inspiração mundana, na composição poética pouco extensa, na qualidade dos versos, na música, no som representativo de uma letra, no próprio sentimentalismo.
Doce, guerreira, tropicalista de primeira hora. Diria que me renovo no samba, no chôro, que sou um ser mundano dotado de sentimentos que oscilam entre o real e o sublime.
Meu lirismo observa subúrbios, personagens reais surgem de um modo peculiar, do céu azul adentro a um mundo obscuro, frio, caio numa vala incompreensão, solidão profunda. Nossos universos não comungam não se tocam. Intercambiam informações, sensações, sentimentos e momentos, porém sem haver contato de uma essência.
Descrevo o aspecto dos olhos, a lástima, a fome, a penúria, a miséria ardente. E a casa de madeira se contradiz, com o morro, com os casebres miseráveis, com a favela. E meu olhar observa perplexo, o traço, as linhas, a feição mundana.
Reflexos surgem em minhas pérolas negras, adentro ao mundo adulto, deixo de lado as sapatilhas de bonecas, as trancinhas da infância, às madeiras foram borradas, as nuvens não carregam mais a pureza da infância. O que sobrou foram apenas folhas, queimadas pelo sol.
Ana Luísa Nardin
Observo detalhes, olhares, gestos, movimentos expressivos de idéias, a beleza é nítida, as dores são camufladas, disfarçadas. Escondo segredos na escrita intrínseca, às vezes deparo com um mundo transcendental, sublime. O romance foi um engano.
Guardo tantos sentimentos, alguns são amargos, obscuros, outros são leves, doces e raros são desagradáveis, azedos como a fruta tamarindo. Têm momentos que penso que a escrita é um traço meu, intimo, ás vezes acho que esta é fruto da minha solidão, do vazio, do frívolo. O letreiro configura a tradução de meros sentimentos, de detalhes sem importância.
Fico desvairada com a imagem do espelho, com o reflexo literal de minhas letras, com as pérolas negras. Há tempos estou perdida na inspiração mundana, na composição poética pouco extensa, na qualidade dos versos, na música, no som representativo de uma letra, no próprio sentimentalismo.
Doce, guerreira, tropicalista de primeira hora. Diria que me renovo no samba, no chôro, que sou um ser mundano dotado de sentimentos que oscilam entre o real e o sublime.
Meu lirismo observa subúrbios, personagens reais surgem de um modo peculiar, do céu azul adentro a um mundo obscuro, frio, caio numa vala incompreensão, solidão profunda. Nossos universos não comungam não se tocam. Intercambiam informações, sensações, sentimentos e momentos, porém sem haver contato de uma essência.
Descrevo o aspecto dos olhos, a lástima, a fome, a penúria, a miséria ardente. E a casa de madeira se contradiz, com o morro, com os casebres miseráveis, com a favela. E meu olhar observa perplexo, o traço, as linhas, a feição mundana.
Reflexos surgem em minhas pérolas negras, adentro ao mundo adulto, deixo de lado as sapatilhas de bonecas, as trancinhas da infância, às madeiras foram borradas, as nuvens não carregam mais a pureza da infância. O que sobrou foram apenas folhas, queimadas pelo sol.
Ana Luísa Nardin
Saturday, May 9, 2009
Rapariga intrínseca
Perdidas no lirismo, no gênero de composição poética, na inspiração, no frívolo, no sítio sombrio encontraram afeição recíproca.
Lis era teatral, artística, meiga, singela, única. Seu nome -Amarílis- era peculiar, exótico, diferente, significa pedra preciosa, flor. Rapariga magnífica, cheia de encantos, habilidades, pétalas. Seu estilo, sua maneira de dizer, pintar, esculpir, escrever, é ímpar. Seus cabelos são longos, duradouros, extensos. Suas unhas têm cores Havana, seus lenços vermelhos são cubanos, seu all star verde é intrínseco. Usa um anel próprio, textual, adequado, prata na mãe esquerda. Têm traços indecifráveis, não se pode ler ou interpretar, apenas admirar. Gosta de rock, da música de gênero popular, da década de 1950, de batidas, de ritmos fortes, das guitarras elétricas, das baterias.
O rock une um ritmo rápido, carrega consigo traços de músicas negras. Apesar de no decorrer de sua história o rock and roll ter ficado mais marcado por astros brancos, deve-se aos negros, escravos, a criação da estrutura rítmica e melódica que seria a base do rock. Os cantos entoados pelos negros durante o trabalho, no início do século XX dariam origem ao Blues (do inglês azul, usado para designar pessoa de pele escura, bem como tristeza ou melancolia).
Entendida de música a rapariga Havana sabia de cor versinhos, músicas e poesias. Sua banda preferida dos últimos tempos é Móveis Coloniais de Acaju.
Amarílis de fato é uma flor diriam que é melódica, singular, carrega consigo traços fortes, marcantes, segue num mundo paralelo, único. Seus caminhos são cheios de dores, pesares, amores, espinhos, flertes. Sua timidez, acanhamento,o desembaraço da sua voz baixa, suas frases condizem com o seu charme. As realidades sublimes, reais, intrínsecas, borram as frases de Lis e a torna mais bela. Seu lirismo está em prudência, de acordo com sua existência, escrita mundana.
Ana Luísa Nardin
Lis era teatral, artística, meiga, singela, única. Seu nome -Amarílis- era peculiar, exótico, diferente, significa pedra preciosa, flor. Rapariga magnífica, cheia de encantos, habilidades, pétalas. Seu estilo, sua maneira de dizer, pintar, esculpir, escrever, é ímpar. Seus cabelos são longos, duradouros, extensos. Suas unhas têm cores Havana, seus lenços vermelhos são cubanos, seu all star verde é intrínseco. Usa um anel próprio, textual, adequado, prata na mãe esquerda. Têm traços indecifráveis, não se pode ler ou interpretar, apenas admirar. Gosta de rock, da música de gênero popular, da década de 1950, de batidas, de ritmos fortes, das guitarras elétricas, das baterias.
O rock une um ritmo rápido, carrega consigo traços de músicas negras. Apesar de no decorrer de sua história o rock and roll ter ficado mais marcado por astros brancos, deve-se aos negros, escravos, a criação da estrutura rítmica e melódica que seria a base do rock. Os cantos entoados pelos negros durante o trabalho, no início do século XX dariam origem ao Blues (do inglês azul, usado para designar pessoa de pele escura, bem como tristeza ou melancolia).
Entendida de música a rapariga Havana sabia de cor versinhos, músicas e poesias. Sua banda preferida dos últimos tempos é Móveis Coloniais de Acaju.
Amarílis de fato é uma flor diriam que é melódica, singular, carrega consigo traços fortes, marcantes, segue num mundo paralelo, único. Seus caminhos são cheios de dores, pesares, amores, espinhos, flertes. Sua timidez, acanhamento,o desembaraço da sua voz baixa, suas frases condizem com o seu charme. As realidades sublimes, reais, intrínsecas, borram as frases de Lis e a torna mais bela. Seu lirismo está em prudência, de acordo com sua existência, escrita mundana.
Ana Luísa Nardin
Monday, April 20, 2009
A pequena Afegã
Olga era ruiva, seus cabelos espigados em cachos, sua pele com um tom sereno, seus olhos eram ímpares, únicos. Uma personagem peculiar, intrínseca, real, mas em longos momentos têm feixes irreais. Vivia de livros, romances, se perdia nas palavras, na arte de versificação. Sofrida, filha de afegãos. Descriminada pelo regime Talibã, sua mãe assim como todas as mulheres afegãs usava um vestido preto, esquivo, que cobria o corpo desde a cabeça até os pés, com apenas uma única abertura na zona dos olhos, este vestuário escárnio se chama burca.
A menina dos cabelos espigados tinha traços, linha, feitio afegão, era vítima de um regime que queimava livros, artigos, história. Porém seu pai ensinou a ler, sua mãe deu livros clandestinos, a pirataria de escritos é camuflada, interessante, engraçada. São poucos os que sobrevivem de obras literárias em época tão conturbada.
A pequena dos olhos ímpares era diferente das outras, exceção. A maioria das mulheres era obrigada a se casar, escolas femininas eram proibidas, as garotas se casam em geral aos 12 anos. O casamento, a união, o vínculo entre um homem e uma mulher envolve um ritual financeiro, geralmente a noiva conhece o noivo no dia do casamento, o afeto anterior, feminino, masculino é muitas vezes inexistente, irreal. Olga não se casou, pelo contrário se apaixonou secretamente por um jornalista, trama proibida, dissimulada. Durou pouco o romance, diria que foi um flerte escasso. Neste mundo pode-se amar apenas secretamente, mentalmente, subjetivamente, discretamente. Não deixe os Deuses, nem a sociedade Talibã saber que apóia jornalistas europeus, brasileiros, estes são considerados marginais da literatura.
A personagem dos cabelos ruivos sobreviveu ao mundo islâmico, viu a queda do temível regime Talibã. Em tempos difíceis os livros foram refúgios, lia secretamente, de tudo: comunismo, anarquismo, poemas, romances, versinhos, sabia até algumas letras de músicas contemporâneas. Seu pai era um grande pirata de livros, outrora, foi preso, torturado, subjugado, condenado.
Entretanto, as mulheres estavam demasiadamente marcadas pelo terror, receio, susto, muitas ainda têm medo de tirar a escarna burca. Poucas, raras têm traços tão belos, doces, leves como da pequena Olga, a maioria perdeu a esperança, a descrença está descrita em seus olhos, o medo estala em suas vidas, mal sabem das virtudes dos livros. E assim torna-se difícil sobreviver, compreender um mundo tão contraditório, intrínseco, desumano. A escrita é apenas uma denúncia dos segredos mundanos.
Ana Luísa Nardin
A menina dos cabelos espigados tinha traços, linha, feitio afegão, era vítima de um regime que queimava livros, artigos, história. Porém seu pai ensinou a ler, sua mãe deu livros clandestinos, a pirataria de escritos é camuflada, interessante, engraçada. São poucos os que sobrevivem de obras literárias em época tão conturbada.
A pequena dos olhos ímpares era diferente das outras, exceção. A maioria das mulheres era obrigada a se casar, escolas femininas eram proibidas, as garotas se casam em geral aos 12 anos. O casamento, a união, o vínculo entre um homem e uma mulher envolve um ritual financeiro, geralmente a noiva conhece o noivo no dia do casamento, o afeto anterior, feminino, masculino é muitas vezes inexistente, irreal. Olga não se casou, pelo contrário se apaixonou secretamente por um jornalista, trama proibida, dissimulada. Durou pouco o romance, diria que foi um flerte escasso. Neste mundo pode-se amar apenas secretamente, mentalmente, subjetivamente, discretamente. Não deixe os Deuses, nem a sociedade Talibã saber que apóia jornalistas europeus, brasileiros, estes são considerados marginais da literatura.
A personagem dos cabelos ruivos sobreviveu ao mundo islâmico, viu a queda do temível regime Talibã. Em tempos difíceis os livros foram refúgios, lia secretamente, de tudo: comunismo, anarquismo, poemas, romances, versinhos, sabia até algumas letras de músicas contemporâneas. Seu pai era um grande pirata de livros, outrora, foi preso, torturado, subjugado, condenado.
Entretanto, as mulheres estavam demasiadamente marcadas pelo terror, receio, susto, muitas ainda têm medo de tirar a escarna burca. Poucas, raras têm traços tão belos, doces, leves como da pequena Olga, a maioria perdeu a esperança, a descrença está descrita em seus olhos, o medo estala em suas vidas, mal sabem das virtudes dos livros. E assim torna-se difícil sobreviver, compreender um mundo tão contraditório, intrínseco, desumano. A escrita é apenas uma denúncia dos segredos mundanos.
Ana Luísa Nardin
Friday, April 10, 2009
Sensibilidade de uma lírica
A causa xadrez, o lenço violeta, à sapatilha roxa, as unhas vermelhas. Os cabelos são curtos e têm cor de amora. A delicadeza está nos anéis ganho pela bisavó, nas trancinhas no cabelo, na doçura, no charme do batom vermelho.
A suavidade da escrita está combinando com elegância dos avós, com a mulher formosa, embriagada, cheia de entusiasmo.
O choro é delicado, brando, pouco custoso, real. A distancia entre Minas Gerais e São Paulo é demasiadamente doido. Lembre-se do bisavô que já se foi de um modo sereno, limpo de nuvens, tranqüilo, puro. Não queremos odiar a morte, mas nos aborrecemos com a ausência. Sinta á lagrima arder, não tenha vergonha da sensibilidade de um eu-lírico perturbado com o mundo. Acreditem em tudo que os avós dizem, eles são sábios, e cheios de orgulho. Um dia eles cessam, extinguem e se vão.
Se perca na ligeireza dos olhos verdes, na música dos negros, no samba de raiz. Não sabemos mais o que real e o que é sublime. Sinta raiva, todos se vão um dia, vocifere de saudades, dance até os pés formigarem, abrace aquele camarada, beije aqueles que te causam calafrios, desejos, perturbações, sonhos e pesadelos.
Lembre-se do gaiato que flertava outrora, do travesso de expressão leve, doce, singela, que ambos gostam de Chico, sabem versinhos de Tom, talvez um dia encontrem-se no mundo real, paralelo e intimo. Não se esqueça dos olhos claros se misturando ao lirismo das pérolas negras. Sinta raiva dos namoricos, mas estes vão e vem.
Escreva ate os calos arderem em chamas, sangrarem, e em pouco segundos o alivio, a meiguice, ternura se desmancham nas folhas de pergaminhos amargo. A escrita trás a leviandade de volta, as dores são internas e intimas.
Não se preocupe se a causa xadrez não combina com o lenço violeta. Goze, divirta-se, esqueça as regras, os tabus, as chatices, por longos segundos permita-se viver. Tome um porre de ficar zonza, bêbeda, louca e cante Raul Seixas com os andarilhos de rua, grite, ouça o seu eco. Viva loucamente e intensamente. Esqueça os comentários mirabolantes, lembre-se apenas dos poemas, do lirismo marginal dos poetas.
Então continue escrevendo tudo, angustias, desejos, sonhos, mas principalmente sobre a delicadeza e fragilidade da vida. É difícil viver na transição de um próprio eu – lírico, é espinhoso entender os humanos, o quão interessantes e intrigantes somos.
Ana Luísa Nardin
A suavidade da escrita está combinando com elegância dos avós, com a mulher formosa, embriagada, cheia de entusiasmo.
O choro é delicado, brando, pouco custoso, real. A distancia entre Minas Gerais e São Paulo é demasiadamente doido. Lembre-se do bisavô que já se foi de um modo sereno, limpo de nuvens, tranqüilo, puro. Não queremos odiar a morte, mas nos aborrecemos com a ausência. Sinta á lagrima arder, não tenha vergonha da sensibilidade de um eu-lírico perturbado com o mundo. Acreditem em tudo que os avós dizem, eles são sábios, e cheios de orgulho. Um dia eles cessam, extinguem e se vão.
Se perca na ligeireza dos olhos verdes, na música dos negros, no samba de raiz. Não sabemos mais o que real e o que é sublime. Sinta raiva, todos se vão um dia, vocifere de saudades, dance até os pés formigarem, abrace aquele camarada, beije aqueles que te causam calafrios, desejos, perturbações, sonhos e pesadelos.
Lembre-se do gaiato que flertava outrora, do travesso de expressão leve, doce, singela, que ambos gostam de Chico, sabem versinhos de Tom, talvez um dia encontrem-se no mundo real, paralelo e intimo. Não se esqueça dos olhos claros se misturando ao lirismo das pérolas negras. Sinta raiva dos namoricos, mas estes vão e vem.
Escreva ate os calos arderem em chamas, sangrarem, e em pouco segundos o alivio, a meiguice, ternura se desmancham nas folhas de pergaminhos amargo. A escrita trás a leviandade de volta, as dores são internas e intimas.
Não se preocupe se a causa xadrez não combina com o lenço violeta. Goze, divirta-se, esqueça as regras, os tabus, as chatices, por longos segundos permita-se viver. Tome um porre de ficar zonza, bêbeda, louca e cante Raul Seixas com os andarilhos de rua, grite, ouça o seu eco. Viva loucamente e intensamente. Esqueça os comentários mirabolantes, lembre-se apenas dos poemas, do lirismo marginal dos poetas.
Então continue escrevendo tudo, angustias, desejos, sonhos, mas principalmente sobre a delicadeza e fragilidade da vida. É difícil viver na transição de um próprio eu – lírico, é espinhoso entender os humanos, o quão interessantes e intrigantes somos.
Ana Luísa Nardin
Friday, April 3, 2009
Meninice
Há algum tempo venho escrevendo sobre o agora, de um jeito cortês, frágil, elegante, porém sou cheia de espinhos, de saliências e contradições. Gosto da arte de escrever, dos bilhetes, dos manuscritos, das cartas, dos meus segredos. Aprecio a caligrafia intima, magistral.Os versos, o lirismo dos poemas, os romances escassos, são todos os refúgios de uma rapariga que oscila entre o ser menina e mulher.
Sou aquela que não se pode ler tão pouco interpretar, ás vezes um verdadeiro mistério dotado de cautelas indecifráveis, cheia de encantos e desencantos. Aprecio minhas risadas tímidas, as gracinhas espontâneas, meus comentários mirabolantes. Rabiscos intrigantes e interessantes surgem na minha vida de uma maneira inocente.
Neta do chocolate amargo, do gosto ardido da tequila, dos merengues de morango, das películas melancólicas, da música cubana, da arte contemporânea.
As semelhanças com bonecas, bailarinas, princesas, porcelanas são todas fictícias, irreais, sou feita de carne, osso e sentimentos. Estes são capazes de corroer, de subjugar, de reprimir, mas são cheios de ligeirezas.
É difícil adentrar ao mundo dos homens, aceitar a chatice mundana, o egoísmo dos humanos me causa náuseas. As minhas incoerências, os erros são absurdos, o meu casulo é improvável. As manias da meninice estão intactas, o hábito de roer unhas oscila, ando nas pontas dos pés durante um ato de maluquice, e quando dialogo com garotos que acredito serem realmente interessantes seguro minhas mãos para trás, de um modo delicado, sei que é ridículo e cômico, mas elas tremem bruscamente.
E assim vivo na intimidade de um eu poético, bebo do meu próprio lirismo, flerto com rapazes que subjugo interessante, porém é difícil saber se o gaiato é belo, formoso, agradável, o quão airoso é.
A infância se desmantela aos poucos, as folhas da memória oxidam-se vagarosamente, como nos livros antigos de páginas amarelas do meu avô, ficam apenas as palavras negras, fortes. Lembranças marcantes que oscilam entre sentimentos belos e ruins. Conhecer a morte é demasiadamente doloroso, o vazio, a molesta, a nostalgia que fica é indescritível.
José se foi aos 93 anos e era belo, intelectual, elegante, o bisavô me contava histórias fabulosas, para min um verdadeiro herói de cinema preto em branco, daqueles que eu nunca vou esquecer. Sua foto esta estampada na minha memória, e no piano de madeira antiga da sala.
E assim me desembaralho, os poucos vão entendendo a realidade cruel, as contradições de um mundo indecifrável. A menina ainda está dentro de min de um modo singelo, odiando a morte, mas ás vezes teme é a vida, viver é mais complexo do que aparenta.
Ana Luísa Nardin
Sou aquela que não se pode ler tão pouco interpretar, ás vezes um verdadeiro mistério dotado de cautelas indecifráveis, cheia de encantos e desencantos. Aprecio minhas risadas tímidas, as gracinhas espontâneas, meus comentários mirabolantes. Rabiscos intrigantes e interessantes surgem na minha vida de uma maneira inocente.
Neta do chocolate amargo, do gosto ardido da tequila, dos merengues de morango, das películas melancólicas, da música cubana, da arte contemporânea.
As semelhanças com bonecas, bailarinas, princesas, porcelanas são todas fictícias, irreais, sou feita de carne, osso e sentimentos. Estes são capazes de corroer, de subjugar, de reprimir, mas são cheios de ligeirezas.
É difícil adentrar ao mundo dos homens, aceitar a chatice mundana, o egoísmo dos humanos me causa náuseas. As minhas incoerências, os erros são absurdos, o meu casulo é improvável. As manias da meninice estão intactas, o hábito de roer unhas oscila, ando nas pontas dos pés durante um ato de maluquice, e quando dialogo com garotos que acredito serem realmente interessantes seguro minhas mãos para trás, de um modo delicado, sei que é ridículo e cômico, mas elas tremem bruscamente.
E assim vivo na intimidade de um eu poético, bebo do meu próprio lirismo, flerto com rapazes que subjugo interessante, porém é difícil saber se o gaiato é belo, formoso, agradável, o quão airoso é.
A infância se desmantela aos poucos, as folhas da memória oxidam-se vagarosamente, como nos livros antigos de páginas amarelas do meu avô, ficam apenas as palavras negras, fortes. Lembranças marcantes que oscilam entre sentimentos belos e ruins. Conhecer a morte é demasiadamente doloroso, o vazio, a molesta, a nostalgia que fica é indescritível.
José se foi aos 93 anos e era belo, intelectual, elegante, o bisavô me contava histórias fabulosas, para min um verdadeiro herói de cinema preto em branco, daqueles que eu nunca vou esquecer. Sua foto esta estampada na minha memória, e no piano de madeira antiga da sala.
E assim me desembaralho, os poucos vão entendendo a realidade cruel, as contradições de um mundo indecifrável. A menina ainda está dentro de min de um modo singelo, odiando a morte, mas ás vezes teme é a vida, viver é mais complexo do que aparenta.
Ana Luísa Nardin
Saturday, March 28, 2009
Pulseirinhas coloridas do Bom Fim
No metro de Sampa havia uma garota de bermuda verde, camiseta feminina de banda e sapatilhas de bailarina. Era interessante. Seus cabelos eram curtos, usava um grampo colorido no cabelo, do lado direito da cabeça. Era tão delicada, parecia frágil, porém seus olhos negros tinham uma fortaleza imensurável. Sabia de cor algumas músicas e as cantava mentalmente para passar o tempo.
A garota conseguia fugir dos tumultos urbanos, é fabuloso adentrar ao mundo subjetivo, desse modo cantava em um tom silencioso à música All I Need, conseguia lembrar da tradução de quase todas as músicas de Radiohead, da banda de estampa colorida de sua camiseta. Pensava que tudo estava errado, no que realmente necessitava, às vezes achava que para sobreviver era necessário livros, tinteiros, folhas antigas, trilhas sonoras, cinema cubano e de vez enquanto flertar com um especifico garoto na praça.
Até que se lembrou de um rapaz estranho, obscuro e distante, este usava um chapéu da moda, uma camisa desbotada e um anel comum, esquivo, singular e dourado na mão esquerda. A parede da memória da garota é iverossímel.
Um dia o rapaz sem mais nem menos disse a garota, de sapatilhas de bailarina, que os heróis revolucionários são fictícios, que os mesmos que lutaram contra as torturas um dia mataram, Fernando Meireles consegue confundir e bagunçar a cabeça dos jovens,disse num tom medíocre que os livros lascam-se, oxidam. A garota sentiu seu rosto arder.As palavras ditas pelo homem obscuro a afetou de tal modo que seu corpo sentiu o calafrio da fala chula, vulgar, seus olhos encheram-se de água, e afastou a imagem desse estranho de um modo brusco, violento.
Não esqueceu de suas utopias pelo contrario voltou à realidade do metro, estava perto de sua casa, olhou as suas pulseiras coloridas do Bom Fim algumas vermelhas, outras brancas e pretas, viu que todas as suas utopias estavam representadas em vários cordéis no seu braço.
E diante da realidade urbana do metro se deparou com uma menina e uma mãe que dizia palavrões chulos a filha, está choramingava com um som calmo, infantil, seus olhos eram de um esmeralda tão verde, doídos, seus cabelos eram anelados, curtos, seus pés sujos, suas roupas estavam manchadas e sua vida borrada. As lágrimas escorriam de seu rosto de um modo singelo, a menina tinha perdido as brincadeiras da infância, os piques, os gatos miam, as queimadas, apesar da pouca idade adentrava no mundo adulto, nas contradições suburbanas. Era demasiadamente sofrido ter apenas cinco anos de idade. Apesar dos palavrões mãe e filha possuíam uma sintonia indescritível, um afeto real, uma única semelhança ambas eram filhas do cinema marginal.
A garota sentiu ódio do rapaz de chapéu, alguns traços de semelhança com a guria, talvez os cabelos curtos, entendia a poesia contemporânea, camuflada e marginal. Desceu do metro, mas antes disso olhou nos olhos da menina e de um modo delicado lhe acenou um adeus, e a guria respondeu com uma lágrima borrando seu rosto e um sorriso manchando seus lábios. A garota entendeu que para sobreviver é preciso primeiramente enxergar os humanos, e depois os livros, os tinteiros e os namoricos.
Ana Luísa Nardin
A garota conseguia fugir dos tumultos urbanos, é fabuloso adentrar ao mundo subjetivo, desse modo cantava em um tom silencioso à música All I Need, conseguia lembrar da tradução de quase todas as músicas de Radiohead, da banda de estampa colorida de sua camiseta. Pensava que tudo estava errado, no que realmente necessitava, às vezes achava que para sobreviver era necessário livros, tinteiros, folhas antigas, trilhas sonoras, cinema cubano e de vez enquanto flertar com um especifico garoto na praça.
Até que se lembrou de um rapaz estranho, obscuro e distante, este usava um chapéu da moda, uma camisa desbotada e um anel comum, esquivo, singular e dourado na mão esquerda. A parede da memória da garota é iverossímel.
Um dia o rapaz sem mais nem menos disse a garota, de sapatilhas de bailarina, que os heróis revolucionários são fictícios, que os mesmos que lutaram contra as torturas um dia mataram, Fernando Meireles consegue confundir e bagunçar a cabeça dos jovens,disse num tom medíocre que os livros lascam-se, oxidam. A garota sentiu seu rosto arder.As palavras ditas pelo homem obscuro a afetou de tal modo que seu corpo sentiu o calafrio da fala chula, vulgar, seus olhos encheram-se de água, e afastou a imagem desse estranho de um modo brusco, violento.
Não esqueceu de suas utopias pelo contrario voltou à realidade do metro, estava perto de sua casa, olhou as suas pulseiras coloridas do Bom Fim algumas vermelhas, outras brancas e pretas, viu que todas as suas utopias estavam representadas em vários cordéis no seu braço.
E diante da realidade urbana do metro se deparou com uma menina e uma mãe que dizia palavrões chulos a filha, está choramingava com um som calmo, infantil, seus olhos eram de um esmeralda tão verde, doídos, seus cabelos eram anelados, curtos, seus pés sujos, suas roupas estavam manchadas e sua vida borrada. As lágrimas escorriam de seu rosto de um modo singelo, a menina tinha perdido as brincadeiras da infância, os piques, os gatos miam, as queimadas, apesar da pouca idade adentrava no mundo adulto, nas contradições suburbanas. Era demasiadamente sofrido ter apenas cinco anos de idade. Apesar dos palavrões mãe e filha possuíam uma sintonia indescritível, um afeto real, uma única semelhança ambas eram filhas do cinema marginal.
A garota sentiu ódio do rapaz de chapéu, alguns traços de semelhança com a guria, talvez os cabelos curtos, entendia a poesia contemporânea, camuflada e marginal. Desceu do metro, mas antes disso olhou nos olhos da menina e de um modo delicado lhe acenou um adeus, e a guria respondeu com uma lágrima borrando seu rosto e um sorriso manchando seus lábios. A garota entendeu que para sobreviver é preciso primeiramente enxergar os humanos, e depois os livros, os tinteiros e os namoricos.
Ana Luísa Nardin
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